29º Domingo Tempo Comum Evangelho Lc 18,1-8
por Diácono Edson Moura
A liturgia deste final de semana nos ensina que devemos manter com Deus uma relação estreita, uma comunhão íntima, um diálogo insistente, uma vida de oração; assim será possível compreender, participar e aceitar o seu projeto, seu silêncio aparente muitas vezes e sua ação amorosa e misericordiosa.
O Evangelho na parábola contada por Nosso Senhor Jesus Cristo, sugere que Deus não está ausente e nem é insensível ao sofrimento do homem, e que através da oração, do diálogo insistente, respeitoso e reverente podemos descobrir que Deus nos ama e que tem predileção por todos aqueles que O buscam, pois acabam conhecendo o Seu projeto de salvação através do orar e agir, perseverando no seu amor.
No “caminho de Jerusalém”, Jesus continua sua catequese com todos os discípulos. O texto que hoje nos é proposto narra a parábola do juiz iníquo e da viúva que pede justiça, similar à parábola do amigo importuno que vem pedir pão no meio da noite e que é atendido por causa da sua insistência (cf. Lc 11,5-8) ser entendida como um discurso escatológico, do nosso futuro como filhos e filhas de Deus e como devemos agir e esperar a vinda gloriosa de Jesus, o Filho do Homem.
São Lucas escreveu o seu Evangelho durante os anos 80 (d.C.), época de hostilidade dos judeus e dos pagãos, as comunidades cristãs, que estão inquietas, desanimadas e anseiam pela segunda vinda de Cristo, pela intervenção definitiva de Deus na história para derrotar os maus, por isso devemos entender a parábola de hoje num sentido escatológico, reconhecendo que o plano de Deus é salvar a todos sem exceção, e que podemos participar deste plano e conhece-lo através da oração, diálogo insistente e respeitoso com Deus.
Temos como personagens centrais uma viúva pobre e injustiçada (na Bíblia, é o protótipo do pobre sem defesa, vítima da prepotência dos ricos e dos poderosos) e um juiz que não temia Deus nem os homens, mas que por causa da insistência da viúva acabou lhe fazendo justiça, ou seja, atendeu o seu pedido para poder se livrar deste problema que lhe causava insatisfação.
Assim sendo o Evangelho de hoje contado nesta parábola nos ensina que se um juiz prepotente e insensível é capaz de resolver o problema da viúva por causa de sua insistência, Deus que é todo amor e misericórdia, o Justo Juiz, não iria escutar os seus filhos e filhas que clamam dia e noite por justiça. Com muito mais motivo Deus que é rico em misericórdia e que defende sempre os mais necessitados estará atento às súplicas dos seus filhos.
São Lucas se dirige a uma comunidade cristã a nós hoje, cercada pela hostilidade e perseguições e que estava desanimada, pois, aparentemente, Deus não escutava as súplicas e não intervinha no mundo. A resposta que São Lucas deixa a nós hoje e aos cristãos do seu tempo é que Deus não abandonou o homem, nem é insensível aos seus apelos, apesar de na nossa impaciência e que muitas vezes queremos nos colocar no lugar de Deus e ser juizes. Ele tem o seu projeto, o seu plano e o seu tempo próprio para intervir, a nós resta ter paciência e confiar. Ai entra a oração, a intimidade com Deus, a insistência respeitosa e reverente, pois assim poderemos compreender e participar deste plano salvífico; Deus que criou o homem sem ajuda do homem, quer salvar o homem com a ajuda do homem.
Apesar de todas as dificuldades que vemos no mundo de hoje, sofrimento, dor, inversão de valores, indiferença religiosa, o mundo do ter, dos mais poderosos que escravizam as classes mais pobres e sofredoras, onde muitas vezes parece vermos a “falta” da presença de Deus, o Evangelho de hoje procura responder que Deus não é indiferente aos gritos de sofrimento dos pobres e que não desistiu de intervir no mundo, a fim de construir o novo céu e a nova terra de justiça e paz. Deus tem projetos e planos que nós, na nossa ânsia e impaciência, não conseguimos perceber. Deus tem o seu ritmo, que passa por não forçar as coisas, por respeitar a liberdade do homem, a nós resta-nos orar, respeitar a lógica de Deus, confiar n’Ele e nos entregar nas suas mãos.
A oração não é uma fórmula mágica e automática para levar Deus a fazer a nossa vontade, com certeza, Deus terá sempre as suas razões para não dar muita importância àquilo que aquilo que nos parecem boas, mas que pode roubar-nos a felicidade, outras vezes, ainda, pedimos coisas que são boas para nós, mas que implicam sofrimento e injustiça para os outros, devemos então orar e ter consciência de que tudo deve ser para o bem comum, nosso, de nossa família e toda a sociedade humana, pois todos somos filhos e Deus quer salvar a todos.