Os pobres reconhecem a ação de Deus
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Retomemos uma frase do artigo do jornal da semana passada. “Jesus veio libertar os pobres, pequenos e marginalizados para que eles construam uma nova sociedade e uma nova história.
O anúncio da nova história alegra os pobres porque eles necessitam da ação de Deus para encontrar a justiça que os liberta para a vida a que tanto aspiram. Logo se tornam solidários e reconhecem, dentro da sua entrega, a ação do próprio Deus que realiza a justiça, invertendo as situações. Com o nascimento do arauto de Jesus (João Batista), alegria aumenta, fazendo com que os pobres louvem a Deus, reconhecendo sua misericórdia e fidelidade à aliança feita com o seu povo para sempre (Lucas 1, 39-45).
Levada pela disponibilidade e solidariedade, Maria viaja até uma cidade de Judá – uns 160 km – certamente para ajudar a prima idosa que está em gravidez avançada. Temos então o encontro de duas mães e, também, o encontro de dois meninos, que se reconhecem.
Ainda no ventre, João recebe o Espírito Santo, e já começa a missão de apontar o Messias esperado (João 1,26 e 36). Movida pelo Espírito, Isabel profetiza, reconhecendo o segredo que acontece no corpo e na vida de Maria: ela é mãe do Messias, o Senhor (título divino). Por isso elogia a grande fé de Maria, chamando-a de a mais abençoada das mulheres. O versículo 56 lembra (2 Samuel 6,2-11). Maria ficou com Isabel três meses, assim como a Arca da Aliança, sinal da presença de Deus, ficará três meses na casa de Obededom: com Jesus no ventre, Maria é a Arca da Nova Aliança.
O cântico de Maria (Lucas 1, 46-55) tem muitas lembranças do Antigo Testamento, e segue de perto o cântico de Ana (1Samuel 2,1-10). Lucas certamente usou aqui um salmo dos “pobres de Javé) o resto do povo fiel que permaneceu humildemente aberto a Deus (Sofonias 2,3;3,11-13).
Na pessoa de todos os pobres que esperam a salvação, Maria reconhece e se alegra com a grandeza de Deus (Lucas 1,46-47: Habacuc 3,18). Por quê? Porque viu a humilhação do seu povo pobre, e veio libertá-lo aos olhos de todos (Lucas 1,48; 1 Samuel 1,11). Com efeito, a maior glória e testemunho da santidade e da misericórdia de Deus é ele se aliar e assumir a situação dos pobres, a fim de libertá-los, dando eficácia à luta deles (Lucas 1,49-50; Deuteronômio 10,21; Salmo 103,17). De que modo Deus realiza isso? Através da força da justiça, que inverte as situações sociais para criar um novo relacionamento entre as pessoas e os grupos humanos: os pobres e fracos são libertos daqueles que orgulhosamente os exploram e oprimem (Lucas 1,51-53; 1 Samuel 2,7-8; Salmo 107,9). Essa é a forma de Deus agir, e também será a forma de agir de Jesus, porque a verdadeira justiça é defender o pobre e o fraco contra as pessoas e as estruturas que os exploram e oprimem. É que se reconhecer a misericórdia e a fidelidade de Deus para com o povo que o teme e serve, lembrando-se da aliança que fizera com Abraão, o pai do povo de Deus (Lucas 1, 54-55; Gênesis 17,7).
O cântico de Maria está entre o tempo da espera (Antigo Testamento) e o tempo da realização (Novo Testamento), testemunhando a alegria dos pobres que esperam e confiam na ação de Deus. Contudo, Deus também espera que os pobres aprendam com ele, e se disponham a se tornar seus instrumentos para que ele realize a história da justiça que liberta. Como dizia Tagore: “A história da humanidade espera, com paciência, o triunfo do homem humilhado”.

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