Deus, o Dinheiro e o Pobre
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por Dom Vicente Costa

Caríssimos leitores e leitoras: gostaria de convidá-los a uma importante reflexão sobre o modo como nos relacionamos com o dinheiro. O cristão maduro na fé sabe utilizar os bens materiais de modo justo e solidário, agradando ao coração de Deus. Como bem nos recordou o Papa Francisco em suas redes sociais, “um cristão muito apegado ao dinheiro errou o caminho” (Twitter postado pelo Papa Francisco, no dia 25/08/2015).
A primeira questão a considerar é que o dinheiro se faz necessário no mundo moderno. Embora ainda existam comunidades que negociam na base do escambo, ou seja, da troca de mercadorias, as cédulas e moedas são quase unânimes nas economias dos países. Hoje há até mesmo as chamadas “criptomoedas”, os “bitcoins”, uma espécie de dinheiro virtual.
O dinheiro é uma invenção e uma ferramenta humanas. Mas é preciso utilizá-lo direito. Um pai de família, por exemplo, deve usá-lo para prover o sustento da casa. Um jovem que trabalha deve usar o salário para custear seus estudos e outras despesas. É justo que o trabalhador receba o seu salário e nisto não há nada de errado (cf. 2 Ts 3,10.12; 1Tm 5,18).
O grande problema é quando alguém cai na idolatria ao dinheiro, colocando-o como o bem absoluto e mais valioso da própria vida. A pessoa que se preocupa apenas com o aspecto financeiro, muito facilmente deixa Deus, sua família, seus amigos e o lazer de lado. Toda a sua vida fica baseada na ganância de ter, acumular, gastar, etc. Acaba vítima de um egoísmo profundo que abafa a caridade e a impede de fazer o bem ao próximo.
Em nossa atual sociedade, infelizmente, há pessoas que são escravas do dinheiro, com um apego desmedido e sem nenhum limite. Por mais que os bens materiais sejam necessários, jamais podemos cair no erro de endeusá-lo. No livro do profeta Amós, por exemplo, Deus condena aqueles que pretendem “dominar os pobres com dinheiro” (cf. Am 8,4-7).
Na parábola do administrador desonesto (cf. Lc 16,1-8), Jesus comenta como “os filhos desse mundo são mais sagazes para com os da sua geração do que os filhos da luz” (Lc 16,8). Eles são espertos, mas imprudentes diante de Deus, porque utilizam o dinheiro para se arranjarem entre si, deixando a honestidade e a caridade em segundo plano.
O próprio Cristo nos alerta e ensina sobre como não cair na idolatria ao dinheiro. Devemos usar nossos bens de modo justo, para que possamos levar uma vida digna. E devemos também, como cristãos, cumprir o preceito da caridade e da partilha, colaborando materialmente em alguma obra assistencial ou mesmo ajudando alguém em particular. Deus quer de nós uma fidelidade em tudo, até mesmo no modo com o qual lidamos com o dinheiro.
Caríssimos leitores e leitoras: nos últimos anos temos visto em nosso Brasil como o apego e o mau uso do dinheiro têm gerado tantas situações de corrupção em todas as esferas do poder. Esse é um pecado social grave e que traz consequências terríveis. Enquanto alguns têm muito dinheiro, até de sobra e gastam em bens supérfluos, milhões vivem sem eira e nem beira, com o mínimo para terem uma vida digna.
O caminho para a superação de tão grave problema não é a revolta e tampouco reações exacerbadas. Inspirados pela exortação do apóstolo Paulo, oremos por todos os que ocupam altos cargos, os que possuem a responsabilidade de administrar os bens públicos, para que todos possam levar uma vida calma e tranquila, com toda dignidade (cf. 1Tm 2,1-3).
Enfim, façamos um bom exame de consciência para verificar se estamos utilizando de modo correto e justo os bens que Deus nos permite usufruir. Tenhamos sempre em mente o alerta de Jesus: “Ninguém pode servir a dois senhores” (Lc 16,13). Devemos amar a Deus acima de todas as coisas e ao nosso próximo como a nós mesmos. Precisamos nos apegar mais a Deus e nos desapegar do dinheiro, usando-o tanto para o nosso sustento quanto para auxiliar aqueles irmãos e irmãs que dependem da nossa caridade e da nossa colaboração.
E a todos abençoo.
Dom Vicente Costa
Bispo Diocesano

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