Pobre homem rico !
por Lázaro José Piunti
Recebeu-me ele em seu luxuoso escritório. Aquele homem rico – conhecido de longa data, não meu amigo, porém. Cumprimentamo-nos e o diálogo sobre amenidades fluiu. Sem motivo aparente a conversa derivou para o tempo da velhice. Ele, 77 anos, eu, 63. Normal, pois, o assunto. Estimulado pela minha abertura, pôs-se a lamentar quanto ao fim próximo da existência. Revelou achar-se deprimido e deplorou a inimizade latente com um dos filhos. Questionando a religião duvidou de Deus: “não leva a nada – esse Deus é incapaz de prolongar os nossos dias”! Conversamos um bocado. Falou das suas incertezas quanto ao mistério da vida após a morte. Quando ponderei minha crença na existência da Vida após a Vida acentuaram-se as nossas diferenças! Espantou-se com o meu destemor ante o momento da travessia. Argumentei da inutilidade do acúmulo excessivo de bens materiais. E afirmei: “Eu nunca vi carro fúnebre levando o cadáver de um homem rico seguido de carro forte transportando sua riqueza”! De repente o homem se emocionou e lágrimas povoaram seus olhos. Contou ter escrito uma carta e a lacrou, guardando-a no cofre de sua mansão, com instruções no verso. Deverá ser aberta após sua morte. Mencionou ter ali anotado sua profunda mágoa com um dos filhos, o primogênito, que há algum tempo lhe nega a palavra (Ele é pai de três filhos varões)! Procurei aliviar a amargura daquele pobre homem rico! E insisti para que refaça a carta, só mencionando lembranças boas dos tempos felizes vivenciados com esse filho. E o abençoe! Ele chorou. Confessou ter se preocupado o tempo todo com o bem estar material da família. Empregou todas as energias perseguindo o crescimento financeiro, o aumento patrimonial e econômico, sem perda de tempo com sentimentalismos. Senti-me impotente perante sua dor e tive pena do seu sofrimento. Ele despediu-se de mim com o olhar. Nada mais nos prendia ali! Levantei-me, apertei sua mão e sugeri um reencontro. “Para que, falar em Deus?”– ele disse – irônico!
Sugeri falássemos das flores e das manhãs de sol, da poesia emanada do crepúsculo e das noites enluaradas gerando sonhos bons. “É inútil, meu caro” – soluçou! “Para mim o tema dominante é do vento frio e tenho medo da noite, pois o sono só me traz pesadelos”!
* Este diálogo ocorreu nove anos atrás, em ITU, dia 21-07-2010. Nunca mais foi possível retomarmos a conversa! O pobre homem rico faleceu faz um ano e o filho mais velho homenageou sua memória com celebração e cânticos esplendorosos! Na concorrida missa do 7º dia!