O Carmelo, a vinha do Senhor
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por Dom Vicente Costa – Bispo Diocesano de Jundiaí

Caríssimos irmãos e irmãs: em 16 de julho será comemorado o dia de Nossa Senhora do Carmo, que é uma devoção tão querida do povo católico em todo o mundo, juntamente com a devoção do Sagrado Escapulário. É muito antiga e conhecida a ordem dos Carmelitas, uma das mais antigas na história da Igreja, presente também no Convento Nossa Senhora do Carmo, em Itu.
O nome de Nossa Senhora do Carmo está totalmente ligado à região do Monte Carmelo (em hebraico: “Vinha do Senhor”). O Carmelo é uma cadeia montanhosa situada na Palestina, com aproximadamente 600 metros de altitude, localizada perto da costa mediterrânea. Ela é uma referência para navios e é considerada um lugar sagrado pelas três religiões monoteístas (judeus, cristãos e muçulmanos). O monte foi considerado importante desde tempos imemoriais (cf. Is 33,9; 35,2), mas se tornou particularmente célebre pelas ações do profeta Elias (1Rs 18): foi ali que ele evidenciou a existência e a presença do Deus verdadeiro, vencendo os 450 sacerdotes pagãos de Baal, fazendo descer do céu o fogo devorador. Foi lá, também, onde se passou o famoso episódio da chuva que, pela oração de Elias, depois de um longo período de seca, caiu abundante sobre as terras da região, tirando o povo do perigo de morrer de fome, por falta de víveres para as pessoas e os animais. Porém, antes de chover, uma pequena nuvem, do tamanho do punho de um homem, anunciou a grande alegria para o povo sedento (1Rs 18,43-45). A Igreja sempre viu na figura desta nuvem, da qual caiu a benfazeja chuva salvadora, a prefiguração de Maria, da qual nasceu o redentor da humanidade, Jesus Cristo, Nosso Senhor.
Tudo isto inspirou, centenas de anos depois, já no século XI da nossa era, a fundação de uma ordem religiosa chamada originalmente Ordem dos Irmãos da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo, ou, abreviando, Ordem do Carmo. Nasciam, assim, os carmelitas.
A tradição diz que, no século XIII, os religiosos tiveram que abandonar o Monte Carmelo devido à invasão dos muçulmanos, quando muitos deles foram massacrados. Antes de irem embora, enquanto cantavam a Salve Regina, a Virgem Maria lhes apareceu e prometeu ser a sua Estrela do Mar. Por volta de 1241, o Barão de Grey da Inglaterra voltou das Cruzadas na Palestina levando um grupo de religiosos do Monte Carmelo e lhes deu uma mansão na Inglaterra. Nesse lugar, alguns anos depois, houve um acontecimento mariano especial. No dia 16 de julho de 1251, quando rezava em seu convento, São Simão Stock pediu a Nossa Senhora um sinal de sua proteção maternal. Teve então a visão em que Nossa Senhora lhe entregou o escapulário, com a promessa: “Recebe, filho amado, este escapulário. Todo aquele que com ele morrer, não padecerá a perdição no fogo eterno. Ele é sinal de salvação, defesa nos perigos, aliança de paz e pacto eterno”.
O escapulário era o avental usado pelos monges durante o trabalho, para não sujar a túnica. Colocado sobre as escápulas (ombros), é uma peça do hábito que ainda hoje todo carmelita usa. Estabeleceu-se também o escapulário reduzido para ser dado aos fiéis leigos, após a visão de São Simão Stock. Dessa forma, quem o usasse poderia participar da espiritualidade do Carmelo e das grandes graças que a ele estão ligadas.
Contudo, o escapulário, claramente, não é uma permissão para pecar, com a justificativa de que a Virgem prometeu o céu para aquele que simplesmente o usar. Esse tipo de pensamento, no fundo, manifesta uma fé ainda muito pouco madura, meio supersticiosa inclusive. Essa não é a nossa fé. O que quer dizer então esse sinal? Ele quer ser a manifestação de uma vida que tem a confiança posta em Deus e em Nossa Senhora. Ao mesmo tempo ele é como sacramental (assim como a água benta, por exemplo) que confere uma especial proteção contra os ataques do Maligno.
Depois dessa época, os carmelitas ficaram conhecidos como uma das maiores ordens da Igreja Católica. A ordem dos Carmelitas proveu para o mundo muitos santos importantes da história como: Santa Teresa de Jesus, São João da Cruz, Santa Teresinha do Menino Jesus, Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein), Santa Teresa dos Andes, entre tantos outros.
Peçamos a Nossa Senhora do Carmo que nos ajude a caminhar na misericórdia, no amor, na paz e na fraternidade. Que a vida de oração no monte de Deus nos acompanhe para “contemplar o Deus misericordioso”. Que a Virgem Mãe nos ampare em todas as dificuldades. Nossa Senhora do Carmo, rogai por nós!

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