Guerra de narrações e manipulação das mentes
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por Olga Sodré

Lutas pela hegemonia e por conquistas no mapa mundial

A situação mundial e brasileira está sendo envenenada por ódios, guerras e mentiras. Assistimos atônitos a horrores e agonias em grande escala. Com indignação, vemos países arrasados, populações dizimadas e em desesperada fuga. Não é possível ficarmos indiferentes às tragédias humanitárias por todo planeta. Para sermos solidários com o povo da Ucrânia e os de outros países atingidos não precisamos, contudo, validar conflitos que extrapolam seus cenários de guerra.
Sem dúvida, a Rússia invadiu a Ucrânia. Todavia, países que condenam esta invasão também praticam a guerra, desrespeitam a soberania de outras nações e as invadem. A fim de justificar as guerras, constroem-se diferentes narrativas animadas por heróis e vilões. Para analisá-las é preciso distinguir os grupos envolvidos no tabuleiro desses conflitos, seus interesses, motivações, ideologias e manipulações das emoções.
Pessoas contrárias à invasão da Ucrânia descrevem os invasores como vilões e seus combatentes como heróis. Para abonar a guerra contra este país considerado ‘inimigo’, o lado oposto apresenta uma abordagem inversa dos acontecimentos. Um defensor desta invasão questionou minha argumentação contra ela e valorização da luta pela paz. Ponderou que o mal e o nazismo não podem ser vencidos pela paz, ‘somente a guerra traz a paz’. Será mesmo que as guerras vencem o mal e trazem a paz?
Em entrevista ao blogue ‘Forte’ das Forças de Defesa (28 de fevereiro de 2022), o general Etchegoyen, ex-Ministro do governo Temer, fez uma análise da guerra na Ucrânia, destacando que “a paz é uma concessão do mais forte” (https://www.forte.jor.br/2022/02/28/nas-relacoes-internacionais-nao-ha-pena-ha-interesses-a-paz-e-uma-concessao-do-mais-forte-diz-etchegoyen/).
Segundo ele, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) – que inclui Estados Unidos e países europeus- começou a cercar a Rússia, colocando os russos sob ameaça. Ela teria revidado pela guerra para tentar restabelecer um status mais favorável. Sem defender o governo de Putin e lamentando a tragédia ocorrida, ele explicou que a Europa estava submetida à paz que interessava à OTAN e aos EUA, porém essa paz era ameaça permanente para a Rússia. Após fazer sua análise militar, ele concluiu que nas relações internacionais predominam os interesses e conflitos entre as nações.
Não defendo este tipo de ‘paz’ nem sua solução pela guerra. Ambas se enraízam no uso da força armamentista e na negação de reconhecimento ao outro. Não podem, portanto, construir um caminho que leve à solução dos conflitos. Apesar da precariedade atual das relações internacionais baseadas na ‘paz bélica’ e em ameaças constantes de guerra, a ênfase da luta deve ser pela paz.
Como podemos nos alinhar de um lado ou de outro de lutas pelo poder que destroem implacavelmente nações, convivências pacíficas, vidas humanas e nosso planeta? A quem servem as guerras? Elas são um mal e ameaçam a humanidade. Embora o caminho para a paz pareça distante e utópico, a solução para os conflitos só pode ser alcançada pelo diálogo e união entre pessoas e povos. Como defender os que alimentam guerras, justificam ações dos ‘amigos’ e as condenam nos ‘inimigos’? Como acreditar em narrações para ganhar a hegemonia mundial e o apoio das audiências?