O bom samaritano nas redes sociais
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Foi ontem mesmo…

Lembro-me das minhas aulas de Catequese para a Primeira Eucaristia, quando nossa catequista, Irmã Matilde, explicava o significado de “próximo”, no sentido que está no Evangelho: aquela pessoa que vive perto de nós, com quem convivemos, e para quem devemos estar prontos a ajudar quando necessário. Lembro também de Monsenhor Camilo explicando a parábola do Bom Samaritano e perguntando às crianças: “Quem foi o verdadeiro ‘próximo’ daquela pessoa que foi agredida, assaltada e deixada agonizando na beira da estrada?” “Foi o samaritano”, respondia a criançada.

Assim, aprendi que ser “próximo” é estar perto, mas isso pode significar também as muitas situações que a vida nos traz e as pessoas com quem convivemos, mesmo que por um instante. Afinal, o bom samaritano não conhecia aquele homem ferido, nunca o tinha visto, era até de outra nacionalidade. Mas ele não teve dúvida: diante da situação de necessidade que se apresentou, ele foi lá e ajudou. E mesmo não podendo estar perto o tempo todo, continuou sendo o “próximo”: deixou pagas as despesas até que o homem ferido estivesse completamente recuperado.

Fico pensando naquilo que Irmã Matilde e Monsenhor Camilo nos ensinariam nos dias de hoje, em que as distâncias geográficas deixaram de ser empecilho para convivermos com outras pessoas e nos quais as mídias sociais se tornaram parte inseparável da vida das pessoas.

Para quem devemos ser o “próximo”, para quem devemos estar prontos quando precisar de ajuda? Quem é nosso verdadeiro próximo, aquele que está disposto a nos ajudar quando precisamos?

No final do mês de maio último, o Dicastério para a Comunicação – órgão do Vaticano – publicou um documento chamado “Rumo à presença plena”, com o objetivo de provocar uma reflexão sobre o envolvimento dos cristãos com as mídias sociais. Inspirado na parábola do Bom Samaritano, o documento pretende promover uma cultura de ser um “próximo amoroso” também na esfera digital.

Será possível? Podemos tornar o ecossistema digital um local de compartilhamento, colaboração e pertencimento, com base na confiança mútua? Como?

De acordo com o documento, tornar-se o “próximo” nas mídias sociais começa com uma disposição para ouvir, sabendo que aqueles que encontramos na rede são pessoas reais. Mesmo em um ambiente caracterizado pela “sobrecarga de informações”, essa atitude de escuta e abertura de coração nos permite passar da mera percepção do outro para um encontro autêntico. Podemos começar a reconhecer nosso próximo digital, percebendo que seus sofrimentos nos afetam.

Em nossa presença no mundo digital, podemos nos colocar diante dos outros num espírito de espectador indiferente ou de apoio e amizade. Nesse último caso, nós podemos começar a ajudar a curar as feridas criadas por um ambiente digital tóxico. Podemos ajudar a reconstruir os espaços digitais para que se tornem ambientes mais humanos e mais saudáveis.

Talvez assim, nós, que às vezes somos o bom samaritano e às vezes o homem ferido, possamos ser para os outros o “próximo” que eles estão precisando. E, quem sabe, possamos também encontrar um bom samaritano que será um “próximo” para nós, quando estivermos “jogados à beira do caminho”.