A morte de um venerável
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Há quem tema a morte. Alguns motivos são a dúvida sobre a eternidade, o desespero pela falta de espiritualidade, o apego à vida terrena e à família. Essa imaturidade religiosa – solidão da alma – acontece a quem está distante da oração. Geralmente os que se fazem santos não temem a morte. Ao contrário, esperam por ela, para finalmente retornar à Casa do Pai.

Os setenta e seis anos pesavam sobre o missionário padre Taddei que dedicou toda a vida aos outros. Não cuidara da saúde, a não ser a dos fiéis devotos, alguns seus penitentes. Trabalhou para que houvesse hospitais, mas para os outros; tratou de enfermidades, sobretudo nas epidemias, mas correu o risco de contagiar-se… Não tivera descanso e nem férias. Por cinquenta anos viajou por todo o país fazendo o bem espiritual a quem pôde. Seguiu na vereda da luz para a construção de uma nação católica.

Mas o sofrimento da velhice não o deixava em paz. Em março de 1913 veio grave inflamação do fígado. Escreveu a uma penitente: “Há já muitos dias que tenho passado bem mal, com a cólica hepática, que a cada passo me acabrunha. Seja feita a vontade de Deus, que deste modo me consola com suas últimas visitas.”

Instalado no Bom Jesus, sem empreender mais viagens, a 26 de abril celebrou a última missa. Era festa de Nossa Senhora do Bom Conselho, uma de suas principais devoções, cuja imagem e devoção foram trazidas ao Brasil pelo P. José de Campos Lara, antigo jesuíta sepultado no Bom Jesus. Esta celebração marcou a última vez que Taddei viu a sua igreja amada, o santuário que construiu. Depois não saiu mais do leito; o seu quarto ficava na parte superior da igreja, junto às tribunas que ainda hoje vemos, do lado direito.

A comunhão diária era o consolo divino em meio àquele enorme mal-estar. Seus aposentos recebiam visitas constantes: padres e leigos. A todos tinha palavras edificantes.

Chegou junho, mês do Coração de Jesus. Preocupava-o que as celebrações fossem solenes, que não se descuidasse da festa. De seu quarto ouvia os cânticos, os sinos e o entusiasmo do povo, como ele ensinara havia tantos anos. Porém as forças de seu corpo falhavam. Recebeu a unção. No dia 1º comungou pela última vez. Em seguida renovou os votos de religião e proferiu algumas bonitas palavras. Então se calou. Aquela língua acostumada a pregar não disse mais palavra. Ouvia o consolo de seus companheiros, as mensagens que chegavam, uma delas do papa Pio X. Vinte e quatro horas foi o tempo de sua agonia, tempo de oração contínua na experiência do sofrimento, oferecendo-o à salvação de todo o universo. Assim se despede um venerável santo.

No dia 3 de junho de 1913 os sinos do Bom Jesus soaram o dobre fúnebre às duas horas da tarde falecia o padre Bartolomeu Taddei.