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Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)

“Quem diz que ama a Deus que não vê, e não ama o irmão, a quem vê, está mentindo” (1Jo 4,20). É Assim que João, aquele mesmo que Jesus amava, descreve a fé, cujos ecos encontram-se em uma Palavra de mais autoridade ainda, pronunciada por Aquele que era a própria Palavra, Verbo feito carne que habitou no meio de nós, quando nos disse certa vez: “amar a Deus e ao irmão resume toda lei e os profetas”.

A Quaresma está ligada à nossa experiência e vivência da sabedoria bíblica. Faz memória do êxodo dos antigos e simboliza a nossa passagem da escravidão à liberdade que só os filhos de Deus alcançam.

Reconstitui também o jejum e o retiro de Jesus durante quarenta dias no início de sua pregação pública, o enfrentamento do mal, e sua vitória sobre as tentações.

Jesus, como sabemos, venceu as três tentações universais: fazer milagre e subverter a natureza; tentar a Deus e possuir poder e riquezas sem limites (Mt 4). Embora arraigadas na escuridão do espírito humano, estas tentações se transmutam em uma infinidade de outras; entre elas, a de estabelecer diretamente com Deus uma espécie de elo sem mediação. O elo onde se fala para si mesmo e perde a mediação que pode ajudar a distinguir entre o que são nossos próprios pensamentos, o que é voz do maligno, ou, ainda, fazer com que Deus fale segundo o que os pensamentos humanos determinam. É por isso, que Jesus repreende a Pedro chamando-o de satanás, quando disse: Deus te livre do caminho da Cruz. Era Pedro falando e colocando na vontade de Deus a sua própria vontade.

Na Quaresma, o período de 40 dias que antecede a Páscoa e que tem como objetivo preparar-nos para a celebração da ressurreição de Jesus, somos convidados a refletir sobre as nossas vidas e a nos aproximarmos de Deus por meio da oração, da penitência e da caridade.

Recordando a recomendação de São Tiago, “a fé sem obra é morta”, a nossa Igreja promove a Campanha da Fraternidade, uma iniciativa que busca conscientizar os fiéis sobre a importância da fraternidade universal e da solidariedade. A cada ano, a campanha aborda um tema específico, relacionado às questões sociais, existenciais e políticas que afetam a vida das pessoas, ou seja, sobre a nossa própria vida, pois vivemos em sociedade e não no ermo. Este ano, o tema da Campanha é “Fraternidade e Fome”, alinhado e sustentado com uma recomendação própria do Senhor aos discípulos, quando queriam transferir a responsabilidade da fome dos outro para terceiros. Jesus intervém neste modo fácil de resolver as coisas, e determina: Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Mt 14,16).

Sendo assim, a Quaresma e a fraternidade caminham juntas. A Quaresma nos convida a fazer um exercício de autodomínio, renúncia e sacrifício, e a Fraternidade nos estimula a colocar esses valores em prática, ajudando o próximo e sendo solidários com aqueles mais necessitam. São duas atitudes que se complementam e que nos ajudam a viver a nossa fé de maneira plena e autêntica.

Portanto, a Quaresma e a Fraternidade têm tudo a ver. São valores fundamentais da vida cristã, que nos ajudam a construir um mundo mais justo e solidário, onde todos sejam respeitados, amados e socorridos como irmãos em suas necessidades básicas.