Coragem
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Não há dúvida… esses têm sido tempos de muita coragem.

Para ser sincero, não sei dizer quando começou, mas já faz um bom tempo que todos nós estamos precisando demonstrar muita coragem no nosso dia a dia.

Coragem para assumir uma opinião, uma posição, uma crença, correndo o risco de ser alvo de piadas, de exclusão, de “cancelamento” e de ódio. Mas também é preciso coragem para calar, não dizer o que pensa, não se posicionar e ouvir calado tantas coisas com as quais não concordamos, atitudes com as quais não compactuamos.

Tem sido necessária muita coragem para discordar das unanimidades que se construíram em torno de dois polos que se apresentam como únicos, verdadeiros e absolutos. Mas também tem sido necessária muita coragem para concordar com este ou aquele grupo, uma vez que a concordância vem também acompanhada de patrulhamento, impedindo qualquer tipo de questionamento ou “desvio”.

A coragem tem sido necessária até mesmo para ter fé, uma vez que a religião tem sido sequestrada pelos discursos para justificar esta ou aquela posição. Expressar a fé exige, então, muito mais coragem, porque é preciso profetizar contra posicionamentos religiosos que se cristalizaram em torno de ideologias. Mais coragem ainda para quem se vê obrigado a abandonar sua comunidade, seu grupo, sua igreja, por conta de uma religião fundada no amor, mas que agora prega a intolerância com quem pensa diferente.

Diante disso tudo, é preciso muita coragem para continuar falando sem ser ouvido, defendendo argumentos sem ser compreendido, continuar acreditando sendo constantemente desacreditado. Mas talvez seja necessária ainda mais coragem para reconhecer a própria impotência diante de tudo isso, calar-se por não encontrar mais o que falar, recolher-se por não reconhecer mais seu próprio lugar nesse mundo.

A coragem também será necessária nos próximos dias, quando “um dos lados” será derrotado e será preciso reconhecer a vitória “do outro lado”. Também será preciso muita coragem para podermos conviver novamente com quem pensa diferente, nos reaproximarmos de quem nos afastamos.

E será preciso coragem para refletirmos sobre tudo que fizemos nesse tempo, sobre a forma que lidamos com tudo isso. Coragem para enxergar e reconhecer nossos erros.

O Papa Francisco percebeu o momento delicado pelo qual passamos e pediu a intercessão de Maria para o povo brasileiro: “Peço a Nossa Senhora Aparecida que proteja e cuide do povo brasileiro, que o livre do ódio, da intolerância e da violência.” (Audiência Geral, 26/10/2022)

Tomo a liberdade de completar o pedido…

Mãe Aparecida, inspira-nos a coragem de sermos fiéis a Deus, de sermos coerentes com o que cremos, de assumirmos o que acreditamos ser o certo, de fazer a nossa parte; a coragem de escolher de acordo com nossa consciência e nosso discernimento; de enfrentar as dificuldades, o ódio e as agressões. Inspira-nos a coragem de ouvir e de perdoar, de reconhecer nossos erros e de pedir perdão; de ir ao encontro do outro; de buscar a felicidade, para nós e para todas as pessoas. Inspira-nos a coragem de seguir Seu Filho, Jesus, e a coragem de amar, acima de tudo.