O jovem padre queria ser missionário
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O padre Bartolomeu Taddei, logo após ser ordenado sacerdote, vivia em Roma e trabalhava como Secretário do Bispo de Sora. A cidade eterna, sede da Cúria da Igreja, oferecia oportunidades a um moço com talento e tino administrativo. Se quisesse trabalhar na Santa Sé, poderia fazer carreira, tornando-se monsenhor ou até bispo.
Mas outra coisa o atraía, sentia um grande ardor missionário. Desejava viver próximo do povo, falar do amor de Jesus, do caminho do Bem, dizer palavras de salvação, proclamar as verdades eternas. Imaginava-se diante de crianças e jovens, explicando o catecismo, ouvindo confissões, celebrando a missa para eles, oferecendo a esperança maior, que só viria como prêmio na eternidade.

Já em Sora, no tempo do seminário, conhecera uma casa da Companhia de Jesus, Ordem fundada por Ignácio de Loyola, que tem por objetivos a educação católica e as missões. Sabia que os jesuítas, séculos antes, haviam revolucionado o mundo com seu trabalho na América, Ásia e África, mas deixaram de existir, porque sua influência política era tão grande que incomodava alguns reis europeus.

O moço se encantara com a história dos primeiros missionários como o espanhol Francisco Xavier, que morreu em um lugarejo da China, deitado sobre uma esteira de vime, abraçado ao crucifixo e clamando por viver mais um tempo salvando almas.

Taddei fez um retiro com os jesuítas e se sentiu atraído pela vida religiosa. Ao mesmo tempo em que buscava discernir sobre o futuro, não poderia abandonar o bispo que tanto o inspirava, agora envelhecido e doente. Acompanhou-o até o fim. A 12 de novembro de 1862 ele faleceu.

No mesmo dia das solenes exéquias do amigo, o jovem padre ingressou no noviciado da Companhia de Jesus. Era festa litúrgica de Estanislau Kostka, um dos jesuítas que morreram jovens; Taddei se mudou exatamente para a casa onde viveu e morreu esse santo polonês, próxima ao palácio Quirinal.

Bartolomeu mergulhou na espiritualidade inaciana, no conhecimento da vida e obra dos santos jesuítas. Paralelamente repetiu estudos de Teologia à moda da Companhia de Jesus. Exatamente dois anos depois, a 13 de novembro de 1864 fez os seus primeiros votos de pobreza, castidade e obediência. Estava pronto para grandes missões. Doravante todas as suas atividades seriam definidas por seus superiores.

Destinado ao Seminário de Sezze como administrador (ministro), estava ansioso por atividades distantes da Europa e já havia solicitado trabalhar como missionário. Não escondia sua admiração por antigos jesuítas como José de Anchieta, que viveu entre os indígenas no Brasil.

Durante um ano ficou na expectativa de seu futuro. Pedia ao Sagrado Coração de Jesus por um desafio para sua vida sacerdotal. Logo após o seu aniversário de vinte e oito anos, novamente no dia de Santo Estanislau Kostka, recebeu a destinação: seria missionário no Brasil. Doravante poderia agir como seus antigos irmãos de batina, vivendo para o outro, dedicando todo o tempo à salvação das almas.

Luís Roberto de Francisco
Biblioteca Histórica “Padre Luiz D’Elboux”