Maria, concebida sem  pecado original!
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Dom Anuar Battisti
Arcebispo Emérito de Maringá (PR)

Na Solenidade da Imaculada Conceição, somos convidados a refletir sobre o tipo de resposta que damos aos desafios de Deus. Ao propor-nos o exemplo de Maria de Nazaré, a liturgia nos convida a acolher, com um coração aberto e disponível, os planos de Deus para nós e para o mundo.
A segunda leitura – Ef 1,3-6.11-12 – garante-nos que Deus tem um projeto de vida plena, verdadeira e total para cada homem e cada mulher, projeto que esteve, desde sempre, na mente do próprio Deus. Esse projeto, apresentado aos homens através de Jesus Cristo, exige de cada um de nós uma resposta decidida, total e sem subterfúgios. Desde a eternidade, Deus nos amou, nos escolheu e nos destinou à felicidade. Ele nos une a Cristo para apagar nossos pecados e nos tornar santos.
A primeira leitura – Gn 3,9-15.20 – mostra, recorrendo à história mítica de Adão e Eva, o que acontece quando rejeitamos as propostas de Deus e preferimos caminhos de egoísmo, orgulho e autossuficiência. Viver à margem de Deus leva, inevitavelmente, a trilhar caminhos de sofrimento, destruição, infelicidade e morte. Esse relato de queda torna-se antítese do Evangelho. De um lado, o casal primigênio pecou e afastou-se de Deus; a consequência da desobediência é a vergonha, a irresponsabilidade e a imaturidade. A pergunta divina “onde estás?” (Gn 3,9b) é mais existencial e religiosa do que geográfica. A partir do pecado, o ser humano, envergonhado, “foge e se esconde” de seu Criador. Por outro lado, Maria é “cheia de graça”, a bendita entre as mulheres da terra, pois viu realizar-se em si mesma as promessas de Deus. O “sim” da Virgem Maria redime a culpa de Eva e oferece à humanidade a contemplação da salvação, com a Encarnação do Filho Jesus.
O Evangelho – Lc 1,26-38 – apresenta a resposta de Maria ao plano de Deus. Ao contrário de Adão e Eva, Maria rejeitou o orgulho, o egoísmo e a autossuficiência, e preferiu conformar sua vida, de forma total e radical, com os planos divinos. De seu “sim” total resultou salvação e vida plena para ela e para o mundo. O Anjo aparece a Maria não no templo ou em um ambiente religioso, mas em sua casa. Com sua colaboração, a divindade se une à humanidade na criança que vai nascer. Jesus é Filho de Maria e presente de Deus para o mundo. Maria acolhe o desafio e proclama-se “serva do Senhor”, dispondo-se a cumprir a vontade divina e com ela colaborar.
A Solenidade da Imaculada Conceição pode ser resumida como a força da ternura: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor é contigo!” (Lc 1,28). Mesmo vivendo num mundo marcado pelo pecado, Maria Santíssima não foi atingida pelo pecado original decorrente da desobediência de Adão e Eva. Por isso, Maria é escolhida por Deus para ser a Mãe de seu Filho, cujo nascimento nos preparamos para celebrar proximamente no Natal.
Maria, a Mãe do Redentor, é aquela que serve, a “Serva do Senhor”. A grandeza de Maria está, sim, em ser “cheia de graça”, mas também em sua humildade e no amor doado, expresso com ternura e afeto, mostrando-nos que esses gestos “não são virtudes dos fracos, mas dos fortes, que não precisam maltratar os outros para se sentir importantes” (Evangelii Gaudium, n. 288).
Vamos, como peregrinos de esperança, em Jubileu de Esperança, buscar em “Maria, a cheia de graça” inspiração para acolher, com humildade e ternura, os irmãos e irmãs de caminhada de fé. Renovemos, com Maria, o nosso “sim” a Jesus, confiando sempre na ação de Deus em nossa vida. Conforme a Palavra de Deus que ouvimos, Maria resgata a imagem da humanidade infiel e colabora para que se concretize, por meio de Jesus, a redenção universal.
Maria Santíssima, a Imaculada Conceição, nos ajude a viver na graça, sem pecado, da qual ela é portadora por excelência! Amém!