16º Domingo do Tempo Comum
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Diác. Paulo Halter
Paróquia Nossa Senhora
da Candelária

“Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas.”

Evangelho (Lc 10,38-42)

Amados irmãos e irmãs em Cristo,
No itinerário do discipulado, hoje somos chamados a refletir sobre o tema da hospitalidade — algo sagrado nas civilizações antigas, sobretudo em Israel. Acolher o outro remete a acolher o próprio Deus; é gesto de amor, é abrir-se também à Palavra do Senhor, que toca o coração do ser humano e o compromete.
A hospitalidade também está presente na casa das irmãs de Betânia. Lá, Jesus é bem recebido, descansa e partilha a vida com seus amigos. Ele não se comporta como um hóspede comum; mesmo quando é recebido por amigos de longa data, como Marta e Maria, exige atenção especial à sua mensagem e à sua pessoa.
Acolher Cristo hóspede é, principalmente, “ouvi-lo” — pôr-se em atitude de receptividade, mais do que apenas dar. É ouvindo-o que se entra em comunhão com Ele e se é transformado (como Maria). Quem se preocupa mais com o que tem a oferecer (como Marta) do que com a pessoa com quem se comunica, afasta-se.
Duas mulheres, dois modos diferentes de se comprometer: Marta faz as vezes de dona de casa, acolhe Jesus e anda preocupada com as tarefas aumentadas pela visita do Mestre. Fica chateada porque Maria, sua irmã, não a ajuda no serviço:
“Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha com todo o serviço? Manda que ela venha ajudar-me.”
Maria, por sua vez, sentou-se aos pés do Senhor e ficou escutando a sua palavra.
Diz Jesus: “Marta, Marta!”
Ele não quer criticá-la pelo que anda fazendo, pois sabe que o serviço de Marta é um sinal de amor. No entanto, constata que ela está “inquieta e preocupada com muitas coisas”, mas deixou de lado aquilo que é verdadeiramente necessário: “Maria escolheu a melhor parte, e esta não lhe será tirada.”
O equívoco de Marta consistiu em querer demonstrar hospitalidade sem acolher o dom que Deus lhe trazia em Jesus Cristo, a Palavra de Deus. Maria, por sua vez, solidarizando-se com o Mestre a caminho de Jerusalém, descobriu um novo modo de fazer as coisas — encontrou a raiz do discipulado, que a torna participante do projeto de Deus. Deixou-se animar pela Palavra que gera uma nova sociedade e novas histórias. Tornou-se discípula porque acolheu, em sua casa, o dom que Deus lhe trazia em Jesus: “Busquem, antes de tudo, o Reino de Deus, e tudo o mais lhes será acrescentado.”
A questão essencial que sobressai no Evangelho é que há discípulos que, diante da urgência do trabalho apostólico, se envolvem completamente na ação, com generosidade e entrega. Mas, absorvidos pelo tempo e pelo trabalho, deixam de ter tempo para acolher, para se sentar aos pés de Jesus e escutá-lo. No meio da agitação que os envolve, perdem o sentido das coisas, deixam de perceber o rumo que devem tomar.
É verdade que “a messe é grande e os trabalhadores são poucos”, mas nenhuma ação dará frutos consistentes se não estiver enraizada na escuta de Jesus, no encontro com a sua Palavra. Todos os discípulos — todas as “Martas” — precisam encontrar tempo para se sentar calmamente aos pés de Jesus, para escutar sua Palavra, acolher a paz que brota d’Ele e redescobrir o caminho que Ele os convida a percorrer.
Todos nós, discípulos que nos dispomos a seguir Jesus em qualquer época da história, devemos estar conscientes disso: acolher o Mestre na escuta de sua Palavra.

Deus abençoe a todos