Comunicar a esperança com mansidão
Compartilhe

Neste domingo, Solenidade da Ascensão do Senhor, a Igreja celebra também o Dia Mundial das Comunicações Sociais. Criado em 1963, como uma das ações definidas pelo Concílio Vaticano II (1962-1965), a data mostra a preocupação da Igreja com o mundo das comunicações, fenômeno que se construiu ao longo do século XX, tornando-se parte importante da vida da sociedade contemporânea, contando suas histórias, transmitindo conhecimentos e moldando hábitos e comportamentos de toda a humanidade.
Desde sua primeira edição, o Dia Mundial das Comunicações Sociais traz uma mensagem do Papa, voltado especialmente aos profissionais da área, refletindo sobre importantes aspectos da comunicação contemporânea. Nesses últimos anos, em que cada um de nós nos tornamos também comunicadores nas redes sociais, a mensagem do Papa para esse dia também é voltada para nós.
Para este 59º Dia Mundial das Comunicações Sociais, a mensagem foi escrita pelo Papa Francisco e divulgada no dia 24 de janeiro, festa de São Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas. Com o tema “Partilhai com mansidão a esperança que está nos vossos corações” (cf. 1 Pd 3,15-16), a mensagem chama a atenção para a necessidade de uma comunicação que dê espaço para a esperança. Num tempo “marcado pela desinformação e pela polarização”, os comunicadores de todo o mundo somos chamados a “colocar no centro da comunicação a responsabilidade pessoal e coletiva para com o próximo”.
Francisco nos convoca a desarmar a comunicação, a deixarmos de “usar a palavra como uma espada” e a excluir a agressividade do processo. Para isso, nos convida a fazer da esperança o principal conteúdo da nossa comunicação.
Comunicar a esperança não é tarefa fácil. Num mundo em que sofrimento, dor e morte estão cada vez mais presentes, não é simples encontrar a esperança a ser comunicada. Mas, para o cristão, a esperança não é uma escolha: “A esperança dos cristãos tem um rosto: o rosto do Senhor ressuscitado.” Se não somos capazes de comunicar a esperança, não estamos conseguindo comunicar o próprio Jesus.
Papa Francisco nos lembra que a mensagem do amor de Deus por nós é muito mais que um anúncio com belas palavras. Como nos mostrou o próprio Cristo, trata-se de viver esse amor nas atitudes cotidianas. “Os cristãos não são aqueles que ‘falam’ de Deus, mas aqueles que fazem ressoar a beleza do seu amor, uma maneira nova de viver cada pequena coisa.”
“A comunicação dos cristãos – e eu diria até a comunicação em geral – deve ser feita com mansidão, com proximidade: eis o estilo dos companheiros de viagem, na pegada do maior Comunicador de todos os tempos, Jesus de Nazaré, que ao longo do caminho dialogava com os dois discípulos de Emaús, fazendo-lhes arder os corações através do modo como interpretava os acontecimentos à luz das Escrituras.”
Para comunicar a esperança com mansidão, precisamos “cuidar do nosso coração”. Franciso nos fornece algumas pistas:
•“Sejam mansos e nunca esqueçam o rosto do outro; falem ao coração das mulheres e dos homens a serviço de quem vocês desempenham o seu trabalho.”
•“Não permitam que as reações instintivas guiem a sua comunicação. Semeiem sempre esperança, mesmo quando é difícil, quando custa, quando parece não dar frutos.”
•“Procurem praticar uma comunicação que saiba curar as feridas da nossa humanidade.”
•“Deem espaço à confiança do coração que, como uma flor frágil mas resistente, não sucumbe no meio das intempéries da vida, mas brota e cresce nos lugares mais inesperados: na esperança das mães que rezam todos os dias para rever os seus filhos regressar das trincheiras de um conflito; na esperança dos pais que emigram, entre inúmeros riscos e peripécias, à procura de um futuro melhor; na esperança das crianças que, mesmo no meio dos escombros das guerras e nas ruas pobres das favelas, conseguem brincar, sorrir e acreditar na vida.”
•“Sejam testemunhas e promotores de uma comunicação não hostil, que difunda uma cultura do cuidado, construa pontes e atravesse os muros visíveis e invisíveis do nosso tempo.”
•“Contem histórias imbuídas de esperança, assumindo sua responsabilidade em nosso destino comum e escrevendo juntos a história do nosso futuro.”
Reforçando a mensagem de Francisco, o Papa Leão XIV pediu aos comunicadores, no último dia 12 de maio:
“Desarmemos a comunicação de todo preconceito, rancor, fanatismo e ódio; purifiquemo-la da agressividade. Não precisamos de uma comunicação estrondosa e muscular, mas de uma comunicação capaz de ouvir, de acolher a voz dos frágeis que não têm voz. Desarmemos as palavras e ajudaremos a desarmar a Terra. Uma comunicação desarmada e desarmante permite-nos partilhar uma visão diferente do mundo e agir de modo coerente com a nossa dignidade humana.”
Que sejamos, todos nós, comunicadores da esperança!