Os leigos e a imprensa católica

Corria o ano de 1905. Itu contava cerca de 20.000 habitantes entre o campo e a cidade. A população urbana era pequena, pois a única fábrica, de tecidos “São Luís”, empregava pouco mais de 500 pessoas. A grande maioria era formada por católicos, mesmo aqueles que não frequentavam a Igreja, batizados e ligados à cultural cristã. Não havia ainda protestantes vivendo aqui (somente em 1908).
O ambiente cultural era permeado por grande interferência do calendário religioso na vida das pessoas. O clero era numeroso: além do pároco, padre Elisiário de Camargo Barros, havia cinco outros sacerdotes seculares (Cônego Antonio Bueno de Camargo, Padre Bento e os capelães do Patrocínio: Padres Masset, Ferroud e Gaché, franceses). No Colégio São Luís e no Bom Jesus havia 16 jesuítas. Dentre eles, destacava-se o influente e conhecido padre Bartolomeu Taddei, cuja história e intervenção estão absolutamente ligadas ao nascimento deste jornal.
Como sabemos, ele foi o fundador do Apostolado da Oração no Brasil, o primeiro núcleo em Itu, no Bom Jesus. Vivia pregando missões, retiros e fazendo reuniões com bispos e párocos por todo o Brasil, para fortalecer o movimento que criou, centrado na devoção a Jesus Eucarístico. Acreditada no protagonismo dos leigos, na Igreja, fruto de sua participação como teólogo no Concilio Plenário da América Latina (1899), em Roma, de onde saiu com a incumbência de organizar o Primeiro Congresso Católico Brasileiro, realizado em Salvador, no ano seguinte. Uma das emergências da Igreja diante do indiferentismo era a formação de quadros da intelectualidade cristã e colocá-los na luta pela fé através da imprensa católica. O principal celeiro de formação de homens da elite religiosa do país era o Colégio São Luís, justamente localizado em Itu, com centenas de alunos internos, que funcionava havia quase quarenta anos (desde 1867). Um dos fundadores foi o padre Taddei.
Ao longo das suas jornadas missionárias, Taddei percebeu a fragilidade das paróquias e dioceses no tocante à comunicação. O movimento que dirigia – Apostolado da Oração – de cunho nacional, com mais de um milhão de membros, contava com uma revista mensal, o Mensageiro do Coração de Jesus, ainda em circulação, prestes a completar 130 anos! Era o momento de construir redes de comunicação nas paróquias, para divulgarem a vida religiosa, fazendo frente aos movimentos anticlericais e de livres pensadores que negavam-se a viver o Catolicismo em uma cidade tão marcada pela vida religiosa. Em 1905, havia irmandades religiosas que agregavam os diversos grupos sociais de Itu: Ordens Terceiras do Carmo e São Francisco (com igrejas próprias), as Irmandades do Santíssimo Sacramento, de Nossa Senhora do Rosário, de São Miguel e Almas, da Senhora da Boa Morte, de São Benedito e o Círculo Católico, na Matriz além da Congregação Mariana feminina, no Bom Jesus.
Um jornal católico reuniria toda a gente católica, influenciaria e faria frente a tudo o que representa negação da fé católica. Assim nasceu a imprensa engajada em Itu.