Peregrinar com Esperança
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O Papa Francisco estabeleceu o próximo ano, de 2025, como um ano jubilar. A cada 25 anos, a Igreja celebra um tempo festivo de conversão, movida pelo intuito de oferecer cada vez mais oportunidades para nossa salvação. Desde 1300, quando o Papa Bonifácio VIII proclamou o primeiro Ano Santo, a vivência dos jubileus aproxima os fiéis cristãos da mensagem do Evangelho através de momentos propícios de perdão e reconciliação, realizados nas peregrinações e celebrações especiais espalhadas por todo mundo. Para 2025, Francisco nos propõe o tema: “Spes non confundit” – A esperança não engana (Rm 5,5). Trata-se de uma ocasião ímpar de revigorarmos em nós essa virtude teologal, no intuito de realmar a nossa vida eclesial, especialmente em tempos tão marcados pelas incertezas, como os nossos.
A figura da Porta Santa, que será aberta em dezembro deste ano, por ocasião jubilar, representa o próprio Cristo que afirma: “Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim será salvo” (Jo 10,9). Como nos ensina o apóstolo Paulo, “quando éramos inimigos de Deus, fomos reconciliados com Ele pela morte de seu Filho, com muito mais razão, uma vez reconciliados, havemos de ser salvos pela sua vida” (Rm 5,10). O Jubileu é a lembrança da misericórdia infinita e indulgente de Deus, que está sempre aberta para aqueles que se arrependem dos pecados e buscam uma vida nova em Jesus. Os propósitos para vivermos bem o momento festivo que se aproxima incluem uma boa compreensão do autêntico significado do jubileu, a correta preparação através de uma boa confissão e a realização de uma peregrinação. Assim, devemos experimentar, desde já, o tema proposto pelo Sumo Pontífice, que nos convida a sermos “Peregrinos da Esperança”.
O tema escolhido pelo Papa Francisco para o próximo Jubileu nos recorda a Esperança que nasce do amor e encontra raiz no próprio Coração de Jesus trespassado na cruz. Sua manifestação acontece na nossa vida de fé, que começa com o Batismo, desenvolve-se na docilidade à graça de Deus e é sempre renovada e tornada inabalável pela ação do Espírito Santo. É Ele com a sua presença viva no cotidiano da Igreja, que irradia nos crentes a sua luz. Assim nos recorda o Santo Padre na Bula de Proclamação do Ano Jubilar: o Espírito mantém a Esperança acesa “como uma tocha que nunca se apaga, para dar apoio e vigor à nossa vida”. Ela não engana nem desilude, porque está fundada na certeza de que nada e ninguém poderá jamais nos separar do amor divino.
A companheira inseparável da Esperança é a paciência. Na caminhada da Igreja, quantas são as situações em que somos chamados a esperar com paciência! Mesmo ansiosos pelos resultados, somos convidados a compreender que espalhar e iniciar processos de mudança verdadeira de atitudes é mais importante do que colher com rapidez. A maturidade pastoral e evangélica leva tempo. Cultivar a paciência para não quebrar processos em nossa vida eclesial é fundamental para uma autêntica conversão que desejamos. Mais do que a ansiedade imediatista que não raramente desemboca em autoritarismo ou falsa eficiência, precisamos estabelecer proximidades, promover encontros, saber escutar. É disso que o percurso da sinodalidade proposta pelo Papa trata.
O Jubileu é um período de festa porque nada alegra mais o coração de Deus do que ver os seus filhos retornando para casa. Assim, a imagem mais sugestiva para essa data é a do Pai que acolhe o filho pródigo com um abraço e lhe prepara um banquete. É nesse sentido que devemos compreender o significado das indulgências prometidas àqueles que cumprem as exigências jubilares. Trata-se de uma atitude misericordiosa da Igreja que reflete a própria misericórdia de Deus para com a humanidade e a convida para uma vivência de um tempo forte. Na Bíblia, temos vários exemplos desses tempos fortes. Desde o Antigo Testamento, a promulgação de momentos especiais de arrependimento e de concessão de graças marcam a história do povo de Deus. Da mesma forma, as peregrinações e as visitas aos santuários diocesanos e mundiais refletem a busca do ser humano que se encontra a caminho. Todos necessitamos de pausas respiradoras em nossas jornadas para que nunca percamos o sentido da travessia da vida.
Entretanto, essa Esperança à qual o Jubileu nos motiva não pode permanecer em nós. Ela precisa ser traduzida em atitudes de saída. Precisamos levá-la adiante. É assim que o Papa nos chama a sermos Sinais de Esperança. Nesse sentido, iniciativas que favoreçam o cultivo da alegria jubilar aos jovens, aos exilados de suas terras, aos doentes e especialmente aos pobres são anseios particulares de Francisco. Podemos tomá-los como motivações também para nós. Há tantos sinais de desesperança em nosso mundo! Guerras, violência, deportações de imigrantes, muros levantados… Além disso, a própria Casa Comum é colocada em risco pelos interesses ambiciosos de líderes que são sinais de morte ao invés de vida. É preciso olhar para o futuro como um lugar pelo qual vale a pena esperar.
Em nossa Diocese de Jundiaí, seguindo os encaminhamentos dos três eixos de orientação pastoral, “Sinodalidade, Formação e Comunicação”, promoveremos diversas atividades, visando um estreitamento ainda maior dos laços de comunhão de nossa Igreja particular com os anseios e motivações do Santo Padre. Viveremos um Jubileu especial, valorizando as experiências de unidade, à luz das motivações recordadas por Francisco, inspirado nos 1700 anos do Concílio de Nicéia (325), fundamental para o fortalecimento sinodal da Igreja, num período conturbado e repleto de desafios. No momento oportuno detalharemos os passos a serem seguidos e as atividades programadas e convocaremos todo o povo de Deus para viverem intensamente o período jubilar.
Queridos irmãos e irmãs, o Jubileu se aproxima. É tempo de nos prepararmos para a festa. Vistamos nosso melhor traje: a alegria! Estejamos atentos ao convite de nosso querido Papa Francisco. Sejamos desde já, sinais vivos da Esperança que nunca desaponta.
E que Nossa Senhora do Desterro, peregrina também, nos impulsione a atravessarmos a Porta que é seu próprio Filho, renovados pela certeza de que esperar aquilo que cremos vale a pena.

Sejamos Peregrinos da Esperança!