Fazer ao nosso redor mais casa e menos mercado, espalhar a fraternidade
O Evangelho de Jo 2, 13-25 mostra-nos uma cena dura: Jesus expulsa os vendilhões do templo, Jesus afasta os mercadores, derruba as bancas dos cambistas e admoesta todos, dizendo: «Não façais da casa de meu Pai um mercado» (v. 16). Detenhamo-nos um pouco no contraste entre casa e mercado: são, de fato, dois modos diferentes de estar diante do Senhor.
No templo entendido como mercado, para estar bem com Deus, bastava comprar um cordeiro, pagá-lo e consumi-lo sobre as brasas do altar. Comprar, pagar, consumir, e depois cada um na própria casa. No templo, por outro lado, entendido como casa, acontece o contrário: vai-se ao encontro do Senhor, para estar junto dele, estar junto dos irmãos, para partilhar alegrias e tristezas. Mais uma vez: no mercado joga-se com o preço, em casa não se calcula; no mercado procura-se o próprio interesse, em casa dá-se de graça. E Jesus hoje é duro porque não aceita que o templo-mercado tome o lugar do templo-casa, não aceita que a relação com Deus seja distante e comercial em vez de próxima e confiante, não aceita que os balcões de venda tomem o lugar da mesa familiar, que os preços tomem o lugar dos abraços e as moedas tomem o lugar das carícias. E por que razão Jesus não aceita isto? Porque assim se cria uma barreira entre Deus e o homem, entre irmão e irmão, ao passo que Cristo veio trazer a comunhão, trazer a misericórdia, isto é, perdão, proximidade.
O convite de hoje, também para o nosso caminho quaresmal, é o de fazer em nós e à nossa volta mais casa e menos mercado. Antes de mais, em relação a Deus: rezando muito, como filhos que batem incansavelmente e com confiança à porta do Pai, e não como comerciantes mesquinhos e desconfiados. Portanto, primeiro, rezando. E depois, difundindo a fraternidade: é necessária muita fraternidade! Pensemos no silêncio incômodo, isolado, por vezes até hostil, que encontramos em tantos lugares. Perguntemo-nos então: antes de mais, como é a minha oração? É um preço a pagar ou é o momento do abandono confiante, em que não olho para o relógio? E como são as minhas relações com os outros? Sei dar sem esperar a compensação? Sei dar o primeiro passo para abater os muros do silêncio e as lacunas da distância? Devemos fazer estas perguntas a nós próprios.
Que Maria nos ajude a “fazer casa” com Deus, entre nós e à nossa volta.