CF 2024: “Fraternidade e amizade social” para curar uma sociedade adoecida (01)
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Ao completar 60 anos em âmbito nacional, a Campanha da Fraternidade 2024 faz um diagnóstico da nossa sociedade enferma e, à luz da Palavra de Deus e do magistério eclesial, constata que sofremos de grave “alterofobia”, causada por um “hiperindividualismo”. Para o tratamento, o Papa Francisco já nos indicou o remédio: “fraternidade e amizade social”.

O jornal “A Federação” publica, a partir desta edição, o artigo do padre Jean Poul Hansen, secretário executivo de Campanhas na CNBB. O texto pretende ser um guia para compreender os principais aspectos presentes no Texto-base da CF-2024.

Introdução

Neste ano, a Campanha da Fraternidade (CF) foi inspirada na Carta Encíclica Fratelli Tutti, do Papa Francisco, e traz como tema “Fraternidade e amizade social” e como lema “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8).

A CF 2024 se empenha em fazer um diagnóstico da enfermidade que nossa sociedade atual sofre, com base nos sintomas que experimentamos cotidianamente no nosso convívio social, na literatura bíblica e no magistério sobre o assunto, para, enfim, oferecer ou reoferecer o remédio indicado pelo Papa Francisco ao mundo hodierno.

Move-nos a consciência de que estamos socialmente enfermos e é nossa missão ver, compadecer e cuidar (CF-2020). Por isso, a CF-2024 quer acompanhar nossa sociedade ao médico para que, com base nos sintomas que apresentamos, seja diagnosticada e medicada nossa doença mediante um processo de verdadeira conversão pessoal, comunitária e social.

1. Os sintomas

Em toda consulta, começamos a conversa apresentando ao médico os sintomas que identificamos em nós mesmos e que nos levaram a procurá-lo.

Nossa adoecida sociedade apresenta inúmeros sintomas:
•Estamos transformando o diferente, o divergente e o oponente em inimigos para podermos dar asas ao nosso desejo de eliminá-los;
•Impera entre nós a intolerância;
•Nas redes sociais, temos divulgado mensagens discriminatórias e intolerantes e praticado o cancelamento;
•Na vida real (não digital), aumenta a violência, o ódio, o homicídio e as guerras;
•O diálogo é cada vez mais raro e escasso;
•As famílias se dividiram, romperam relações por razões ideológicas;
•As comunidades estão em conflito, defendendo opostos em nome do mesmo Evangelho;
•O rancor, a inimizade, o afastamento das pessoas crescem vertiginosamente;
•Por razões etnorraciais, pratica-se o racismo;
•Por razões sociais, a aporofobia;
•Por razões sexuais, o feminicídio e a eliminação das pessoas que vivem uma orientação sexual diversa da nossa;
•Por motivos políticos, abandona-se o bem comum (do todo) e prioriza-se a parte, minha parte, a parte com a qual me identifico sem consciência crítica;
•Por motivos religiosos, difama-se, persegue-se, calunia-se, destrói-se, mata-se;
•Os interesses valem mais que os valores;
•O outro se tornou mercadoria;
•Julgamentos precipitados, rejeição gratuita, ódio desmedido, combate a pessoas por causa de suas ideias e propostas e banalização da morte tornam-se corriqueiros;
•Falta compromisso com a verdade, em nome de interesses individuais ou de grupo (fake news);
•Creches e escolas são atacadas por pessoas armadas;
•A violência é normalizada, como a posse de armas e o incentivo ao armamento;
•Além de assédio moral e sexual, constata-se aberta defesa do aborto, devastação ambiental, bullying, intolerância religiosa, tráfico de drogas, tráfico de pessoas, apologia ao armamentismo, situações análogas ao trabalho escravo, discurso de ódio, corrupção e fome;
•Há uma “globalização da indiferença” (EG 54);
•Há uma crise de pertencimento que gera o fenômeno do identitarismo;
•Nossa sociedade está dividida, é desigual e excludente.

(continua na próxima edição)

(artigo publicado na revista Vida Pastoral, jan-fev/2024)