Quaresma ajuda a entrar no deserto interior, em contato com a verdade
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O Evangelho de Mc 1, 12-15 apresenta-nos Jesus tentado no deserto . Diz o texto: «Permaneceu quarenta dias no deserto, tentado por Satanás». Também nós, na Quaresma, somos convidados a “entrar no deserto”, isto é, no silêncio, no mundo interior, na escuta do coração, no contato com a verdade. No deserto – acrescenta o Evangelho de hoje – Cristo «estava com as feras e os anjos o serviam» (v. 13). Os feras e os anjos eram a sua companhia. Mas, em sentido simbólico, são também a nossa companhia: quando entramos no deserto interior, de fato, podemos encontrar aí feras e anjos.
Feras. Em que sentido? Na vida espiritual, podemos pensar nelas como as paixões desordenadas que dividem o coração, procurando possuí-lo. Elas nos sugestionam, parecem seduzir-nos. Elas nos atraem, parecem cativantes, mas, se não tomarmos cuidado, há o risco que nos destrocem. Podemos dar nomes a estas “feras” da alma: os vários vícios, a ambição da riqueza, que nos aprisiona no cálculo e na insatisfação, a vaidade do prazer, que nos condena ao desassossego e à solidão, e ainda a avidez da fama, que gera insegurança e uma necessidade constante de confirmação e de protagonismo – não esqueçamos estas coisas que podemos encontrar dentro de nós: a ambição, a vaidade e a avidez. São como feras “selvagens” e, como tal, devem ser domadas e combatidas: caso contrário, devorarão a nossa liberdade. E a nos Quaresma ajuda a entrar no deserto interior para corrigir estas coisas.
E depois, no deserto, estavam os anjos. Eles são os mensageiros de Deus, que nos ajudam, nos fazem bem; de facto, a sua caraterística, segundo o Evangelho, é o serviço (cf. v. 13): exatamente o contrário da posse, típica das paixões. Serviço contra a posse. Os espíritos angélicos suscitam os bons pensamentos e sentimentos sugeridos pelo Espírito Santo. Enquanto as tentações nos dilaceram, as boas inspirações divinas unem-nos e fazem-nos entrar na harmonia: tranquilizam o coração, incutem o gosto de Cristo, “o sabor do Céu”. E para captar a inspiração de Deus, é preciso entrar no silêncio e na oração. E a Quaresma é o tempo para fazer isto.
Podemos perguntar: em primeiro lugar, quais são as paixões desordenadas, as “feras selvagens” que se agitam no meu coração? Em segundo lugar, para deixar que a voz de Deus fale ao meu coração e o mantenha no bem, estou pensa retirar-me um pouco para o “deserto”, procuro dedicar-lhe durante o dia um espaço para isto?
Que a Virgem Santa, que guardou a Palavra e não se deixou tocar pelas tentações do maligno, nos ajude no nosso caminho de Quaresma.