A menina Luísa Josefina (2)
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Aos três anos, Nossa Senhora a salva miraculosamente de grave doença. Dá-lhe a cura, porque sabe o que lhe reserva o porvir. Não poderia sucumbir aquela que, um dia, ao receber a visita do pároco, lhe diz, na ingenuidade de seus tenros anos: “Quero ser muito boa, para que, quando for grande, mamãe me compre uma veste negra como a sua.” Antevisão inocente de uma realidade heroica!… Desse prazer, porém, não compartilhará a boa mãezinha… que adivinhando talvez sua morte prematura, esforça-se por legar à filha a maior soma de conselhos e exemplos, polindo com tenacidade as arestas de seu caráter, inspirando-lhe horror à mentira, à injustiça e à vaidade, numa preparação segura para o exercício da missão que Deus lhe reservara.
Não permite que a ociosidade ponha a perder a menina. Matricula-a em um externato, e na volta da aula, além do exercício intelectual, dá-lhe como tarefa costurar para os necessitados, piedoso costume que a filha conservará até o fim da vida. Preparar enxovais para recém-nascidos pobres, eis uma de suas distrações prediletas, aos 85 anos!
No Catecismo Paroquial, Luiza Josefina assombra pela sólida formação religiosa, o que leva o Vigário a antecipar a data de sua Primeira Comunhão. Vestida de branco, com muita simplicidade, para que nenhum pensamento de vaidade pudesse turbar sua alma tão pura, recebe o primeiro beijo eucarístico, numa antecipação feliz do noivado eterno com o meigo Jesus!
Logo depois o punham da orfandade se abate sobre o seu coração de filha extremosa. Inconsolável, toma os quatro irmãozinhos, dos quais o menor tem apenas três meses, prostra-se aos pés de uma imagem da Virgem, suplicando-lhe seja dali em diante sua Mãe. Não se deixa dominar pela dor, mas reage com força superior à sua idade. Torna-se o anjo consolador de seu pai, a mãe terna e solícita dos maninhos, a dona de casa ativa e prestimosa, imitadora perfeita de sua progenitora, no trato com os servos.
Passados três anos, seu pai casa-se novamente. Que dura prova! Sabe, no entanto, sufocar a amargura de ver outra no lugar de sua mãe, de presenciar a transformação do ninho bendito de sua infância…
Adolescente já, de porte elegante e esbelto, não lhe faltam pretendentes. Seu pai e o vovô sonham vê-la casada. Deus, porém, que a predestinara para si, vigia ciosamente, e com jeito, move o coração dos dois a entregar-lhe a donzela, não para “rainha do lar”, mas para soberana de almas em flor, coroa resplandecente a ornar-lhe a fronte…
Espera-a no noviciado das Irmãs de São José e, a 2 de fevereiro de 1853, recebe-a como esposa, fecundando-a com milhares de filhas espirituais que, por sua vez, gerarão os futuros cidadãos de Deus e da pátria. Já não pertence mais ao mundo, já não é mais Luiza Josefina. Desse dia em diante, é a Irmã Maria Teodora, aquela que trocou o brilho das riquezas pelo negror de um hábito; o fausto, pela vida apagada; o gozo pela imolação…

06 de abril de 1957

Maria Cecília Bispo Brunetti
Acervo – Museu da Música – Itu