Roberto de  Francisco, organista
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por Prof. Luís Roberto
de Francisco

Este é o título de uma das exposições que o Museu da Música abre neste domingo para celebrar dois centenários ligados à música sacra em nossa terra: a implantação do movimento Ceciliano e o nascimento do organista Roberto de Francisco (1924 – 1976), um dos agentes na transformação do repertório religioso nas igrejas de Itu.
O movimento Ceciliano teve início na Alemanha e foi oficializado em Roma pelo papa Pio X, na tentativa de amenizar a excessiva influência do lirismo operístico na música sacra, valorizando o Canto Gregoriano e compositores que escreveram polifonia discreta e inspirada no canto medieval. A sua efetiva implantação em Itu só aconteceu com a transferência do Padre José Maria Monteiro para a Paróquia de Nossa Senhora Candelária, em 1924, permanência que durou até 1941.
Roberto de Francisco nasceu em Itu a 5 de janeiro de 1924, há exatos cem anos. O seu pai, Luís, era violoncelista e fundou a Orquestra do Centro de Cultura Musical de Itu, na década de 1930 e a Banda da Fábrica São Pedro na década de 1940; portanto havia uma cultura musical em sua casa. Roberto estudou piano e harmonium em Itu e no Conservatório Carlos Gomes (Campinas), tornando-se organista dos congregados marianos, no Bom Jesus em 1944, e regente e organista do Coro do Bom Jesus (polifônico) entre 1946 e 1976. A sua presença na música local permitiu a manutenção de um repertório que foi sendo introduzido por músicos que viveram em Itu, como os jesuítas Pe. José Ramon Zabala (1892 – 1958) e Pe. Robert William Godding (1905 – 1978). Enquanto regentes como o Prof. Luizito – Luiz Gonzaga da Costa Junior (1908 – 1988) e Isaías (Anísio) Sparaninzi Belculfine (1905 – 1978) preparavam as orquestras para grandes celebrações na igreja, mormente no Bom Jesus, santuário nacional, de notórias romarias com milhares de fiéis e presença do alto clero, Roberto se incumbia da preparação do coro, em boa parte formado por suas sete irmãs, outras congregadas e congregados marianos. E o repertório era justamente da música renovada, de compositores como Perosi, Camatari, Bottazzo, Fúrio Franceschini e dos que viveram em Itu, como Tescari, Zabala e Godding.
A contínua atividade do Coro do Bom Jesus em missas, rezas, novenas e tríduos formou um patrimônio imaterial importante que se ligou à espiritualidade católica, fortalecendo a liturgia e permanecendo vivo nos fiéis desse templo.
Roberto atuou também como organista ao Cavaillé-Coll, órgão de tubos da igreja matriz. Durante as missas solenes, aos domingos, o coro paroquial, acrescido de congregados marianos, cantava obras de Perosi, Polleri, Braun, Franceschini, Sinzig e Nacif Farah, compositores que abraçaram a tendência do movimento Ceciliano e foram amplamente divulgados em Itu.
O trabalho voluntário de Roberto de Francisco como organista e regente é um elemento significativo na construção do ambiente de fortalecimento do Catolicismo em Itu, cujos reflexos estão presentes na atualidade.
Não escondo o orgulho de ser filho desse agente cultural, cuja discreta atividade – geralmente escondido no coro alto da igreja – marcou uma época.