Teologia da Libertação
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por Altair José Estrada Junior

Recentemente, fiquei bastante preocupado ao deparar-me com um editorial, em pleno jornal católico, enaltecendo a chamada Teologia da Libertação, corrente teológica que teve (e ainda tem) muita expressão sobretudo na América Latina a partir dos anos 60 e 70, e que propõe a opção preferencial pelos pobres como premissa básica do Evangelho e, em decorrência, o engajamento político como fator essencial na defesa dos pobres e oprimidos.
Não pretendo aqui aprofundar-me na discussão dos fundamentos dessa vertente teológica, mas apenas expressar minha preocupação porque o artigo, a par de defendê-la, fazia uma crítica contundente às pessoas que, dentro ou fora da Igreja, a censuravam e condenavam “sem de fato saberem nada sobre ela”. Ora, as principais ideias, princípios e expoentes da Teologia da Libertação já foram expressamente condenados pela Igreja nas últimas décadas. Não teria a Igreja, “Mãe e Mestra”, conhecimento suficiente e, sobretudo, autoridade para questioná-la?
É bem verdade que São João Paulo II, no início de seu pontificado, teve boa vontade em dar um voto de confiança a essa corrente, chegando até a dizer, em carta dirigida aos bispos do Brasil em 1986, que ela seria “não só oportuna, mas útil e necessária”. Mas, na mesma carta, destacava também a responsabilidade dos pastores em “velar incessantemente para que aquela correta e necessária teologia da libertação se desenvolva no Brasil e na América Latina (…), em plena fidelidade à doutrina da Igreja.” (destaquei).
Lamentavelmente não foi isso que aconteceu e seus defensores e seguidores enveredaram por caminhos absolutamente suspeitos, marxistas e materialistas, onde a doutrina da Igreja, a moral cristã, a salvação por meio dos sacramentos, os proprios sacramentais, orações e atos de piedade foram totalmente relativizados, colocados em segundo plano e, em muitos casos, banidos das pregações, catequeses e direções espirituais, quando estas ainda existiam. Já não se falava em santidade, em libertação do pecado, mas tão somente na chamada “libertação social”, onde a meta seria alcançar a igualdade a todo custo, mesmo que fosse preciso apoiar a luta armada, como foi o caso de muitos padres e religiosos que passaram a colaborar com militantes da esquerda no Brasil e em toda América Latina.
A Igreja acabou por perder muitos fiéis que, insatisfeitos com esse esvaziamento espiritual, ou abandonaram a fé, ou migraram em massa para as seitas protestante, na tentativa de continuar ouvindo a autêntica mensagem do Evangelho. Muitos padres, religiosos e freiras largaram seus ministérios para atuar em favor dessa ideologia.
Viu-se esmorecer, então, aquela solicitude inicial à Teologia da Libertação, já que esta se revestia de total ambiguidade, tomando caminhos nocivos à salvação. A ambiguidade, sobretudo em questões de fé, é absolutamente perigosa à salvação, como já ensinou Nosso Senhor em Mateus 5, 37: “Dizei somente: sim, se é sim; não, se é não. Tudo o que passa além disto vem do maligno”. E isso levou a Igreja a condenar formalmente essa corrente teológica, inclusive silenciando seus principais defensores. Muitas foram suas instruções, exortações e advertências, entre elas a do Papa Bento XVI em 2009, falando aos bispos do Brasil: “…vale a pena lembrar que em agosto passado, completou 25 anos a Instrução Libertatis Nuntius da Congregação da Doutrina da Fé, sobre alguns aspectos da teologia da libertação, nela sublinhando o perigo que comportava a assunção acrítica, feita por alguns teólogos de teses e metodologias provenientes do marxismo. As suas sequelas mais ou menos visíveis feitas de rebelião, divisão, dissenso, ofensa, anarquia fazem-se sentir ainda, criando nas vossas comunidades diocesanas grande sofrimento e grave perda de forças vivas” (destaquei).
Como se vê, a Teologia da Libertação, como idealizada, entre outros, pelo peruano Gustavo Gutiérrez e pelo brasileiro Leonardo Boff, em nada tem a ver com a opção pelos pobres feita por Francisco de Assis, Camilo de Lellis, Tereza de Calcutá e tantos outros santos, pois prega uma revolução não pela conversão dos corações e pela sujeição à Graça, mas de cunho meramente social e materialista, tal como censurado por Cristo, após a multiplicação dos pães: “buscai-me, não porque vistes os milagres, mas porque comestes dos pães e ficastes fartos” (Jo 6, 26).
Assim, muito mais que concordar ou discordar com o tema, aqui se trata de uma questão de OBEDIÊNCIA. A Mãe Igreja, que conhece com propriedade o assunto e que sabe o que é bom e o que é mau para seus filhos, nos exorta em relação aos perigos e males que a Teologia da Libertação pode causar. Então, não seremos nós – muito menos um jornal católico – a defendê-la. Mesmo porque, em questões de fé e de moral – bem o sabemos – a santa Igreja é infalível. Isso é verdade de fé!