A fundação do colégio feminino (2)
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Agora, minhas mui queridas Irmãs, faço votos que estes pormenores que lhes acabo de dar, longe de afastá-las, sirvam antes para encorajá-las a se unirem sempre às suas Irmãs do Brasil: a messe é grande, muito importante e os operários, pouco numerosos; se houver alguém que o Divino Mestre tenha apontado… oh! Não recue diante dos sacrifícios! Avance com nobre coragem… É bom ser Missionária! Além disso, para Jesus, para sua obra, vida por vida, amor por amor e, se for preciso, sangue por sangue! Em todos os climas há penas, há combates, há sacrifícios! Mas, deixem-me dizer-lhes que em todos também há consolações, há vitórias, há recompensas… E seja qual for o lugar onde repousem nossos restos, chegaremos à imensa e vasta morada onde cada qual receberá o prêmio de seu trabalho, de seus labores…”
Nesta maravilhosa página de encorajamento para que outras lhe sigam o exemplo, está a fundadora, sempre atenta às necessidades da nova obra, antevendo o progresso sempre crescente do arrojado empreendimento.
Naquele tempo de fraca instrução religiosa, fácil é imaginar como teria sido um problema a orientação dessas meninas para as práticas de piedade. Madre Teodora, que enfrentara já tantos combates e tudo vencera galhardamente, não se deixa dominar pelo desânimo. Consegue que um padre capuchinho traduza e adapte ao novo meio um catecismo trazido de Chambéry, e com suas companheiras, inicia o preparo para a Primeira Comunhão.
Com grande pompa, o próprio Bispo vem celebrar e oficiar a tocante cerimônia, que atrai ao colégio dezenas de famílias a formarem a moldura mais linda desse quadro sempre novo e sempre enternecedor. Dezesseis meninas recebem a Jesus Hóstia pela primeira vez e as Irmãs, embevecidas, ao vê-las descer os degraus do altar, gozam as doçuras da primeira conquista!
A esse primeiro triunfo, o Divino Mestre junta outros: aprovação plena nos exames finais, fiscalizados por um representante do governo, elogios à instrução ministrada, expansão da escola, acrescida agora de um externato para meninas da classe média e um orfanato para as pobres, com uma classe para ministrar trabalhos manuais e catecismo às filhas de escravos. Mais tarde, Ginásio, Escola Normal, e quem sabe, algum dia, Faculdade de ensino superior…
Aos desvelos de Maria confiara Madre Teodora a sorte da nova grei, naquele longínquo 13 de novembro de 1859. E aquela que nunca desampara aos que a Ela recorrem, soube recolher lágrimas, suspiros, sacrifícios e imolações, e transformar em torrentes de bênçãos e amor…
E hoje, como ontem, a história se repete!

23 de março de 1957

Maria Cecília Bispo Brunetti
Acervo – Museu da Música – Itu