A fundação do colégio feminino (1)
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Amável ouvinte! Prosseguindo a série de irradiações relacionadas com a história do Colégio Patrocínio, às vésperas de seu primeiro centenário, trataremos ainda da vida das Irmãs nos primórdios de sua fundação.
No último sábado, falamos sobre a chegada de Madre Teodora e os revezes de contrariedades que a Divina Providência reservara para os seus primeiros meses de Brasil.
Passada essa fase dolorosa, em que “o sacrifício contínuo é o seu pão de cada dia”, começa a abnegada religiosa uma nova vida à frente da Congregação. Dom Antonio Joaquim de Melo descobre na virtuosa heroína, não mais “uma criança”, como a chamara na primeira apresentação, mas o espírito amadurecido e forte, a dirigente indispensável, a colaboradora inteligente e capaz, a alma talhada para a grande obra, que um dia vislumbrara nos seus anseios de pastor zeloso…
Instaladas provisoriamente em dependências da Santa Casa, suspiram as Irmãs por um novo edifício, maior e mais de acordo com a finalidade que tem em vista.
No velho largo do Patrocínio os trabalhos de adaptação do futuro colégio prosseguem animados. Raia, finalmente o dia da mudança da casa e de superiora. Madre Teodora assume o leme e a 13 de novembro de 1859, festa da Virgem do Patrocínio, com a igreja repleta, esplendidamente engalanada para o magno acontecimento, Dom Antonio, em solene Pontifical, oferece a Deus a Hóstia Imaculada, fonte de amor e energia para as missionárias se desincumbirem da tarefa de educadoras e plasmadoras do caráter da gente paulista.
Oito irmãs e dezesseis alunas, das quais a primeira matriculada foi a menina Olímpia da Fonseca, são, nesse momento, colocadas sob a proteção da Virgem que se encarregará de fazer frutificar a pequenina semente pelos anos em fora. Quantas vezes multiplicará Ela essa parcela abençoada, desabotoando vocações, fecundando gerações a ostentarem orgulhosas a marca indelével da seiva ali bebida!
Findas as cerimônias desse dia feliz, apressa-se Madre Teodora em comunicar à Madre Geral o que se passa na missão brasileira. Eis como se exprime:
“Sentindo sobre meus fracos ombros de 24 anos o enorme fardo, tomei-o e o depositei aos pés de Maria, colocando, entre suas mãos virginais, as rédeas do governo da casa, fazendo-lhe dela uma doação absoluta.
Nossa casa atrai os olhares por sua bela fachada, mas o interior é uma espécie de granja. Do nossos dormitório quase podemos contemplar o céu e contar-lhe as estrelas, pois que não tem forro, mas somente vigas e traves sustentando as telhas. Os muros grosseiramente caiados, e ao rés do chão não há soalho; é terra batida.
Os aposentos do primeiro andar são assoalhados, mas as taboas são tão mal unidas que se pode falar de um andar para outro. Quando as alunas movem os pés na classe, colocada sobre o nosso refeitório, cai pó sobre a mesa e os pratos… Confesso que é um tanto primitiva nossa instalação. Entretanto, temos um luxo: nossas janelas são envidraçadas, o que aqui é coisa rara.
Nossos colchões são de palha. Custa um pouco acostumar-se com eles, mas parece que são melhores para a saúde, por causa do calor.

23 de março de 1957

Maria Cecília Bispo Brunetti
Acervo – Museu
da Música – Itu