Revendo a questão militar
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“Após positiva colaboração das Forças Armadas no resgate de brasileiros, vale rediscutir críticas ao Exército e sua participação na tentativa de golpe em 2022/23, revendo a oposição histórica entre forças ‘golpistas’ e ‘legalistas’ e as diferenças entre a situação militar de 1964 e 2022/23 “

Considerando a bem sucedida colaboração das Forças Armadas no resgate de brasileiros na guerra atual entre Israel e palestinos é oportuno revermos a questão militar brasileira. Multiplicaram-se críticas ao Exército vindas de diferentes lados, sem distinguir as contradições históricas entre diferentes grupos dentro dele. Convivi intimamente com militares que lutaram pelo desenvolvimento e soberania nacional. Com meu pai aprendi a admirá-los e respeitar a bandeira nacional. Por isso, chocou-me ver, em 2022, pessoas vestirem nossa bandeira para defenderem o golpe e destruírem o patrimônio nacional em Brasília, no 8 de janeiro de 2023.

Acompanhei de dentro a montagem das forças legalistas que garantiram a posse dos Presidentes Juscelino Kubitschek (1956 a 1961) e João Goulart (1961 a 1964). As forças golpistas, ao implantarem a ditadura de 1964, expulsaram grande quantidade (cerca de 1600) desses militares legalistas do Exército de suas guarnições. Foram presos e perseguidos para desmontar completamente o esquema legalista.

Estava ao lado de meu pai, o general Nelson Werneck Sodré, e ouvi a conversa dele com o assessor de imprensa do Presidente da República propor a ele de assumir o Comando Militar da Amazônia, pouco antes do golpe (1961/62). Ele já vinha refletindo há algum tempo sobre ir para a reserva. Tal proposta a desencadeou. Sua resposta, previu o que viria acontecer:

Diga ao Presidente Jango que não irei assumir esse Comando, pois meu afastamento do centro político significa contribuir para desmontar o esquema legalista do Exército. O Presidente está abrindo as portas para a vitória das forças golpistas. Não vou compactuar com isto. Prefiro ir para a reserva.

Divulgam-se atualmente dados que a confiança nas Forças Armadas despencou. Em 2024, completar-se-ão 60 anos do golpe militar de 1964, e só agora considera-se que as Forças Armadas vivem ‘uma crise de imagem’? Teria havido ‘perda de popularidade’, durante o governo do anterior presidente do Brasil, que colocou inúmeros militares em vários postos e instituições. Após os episódios relacionados aos acampamentos golpistas em frente aos quartéis do Exército, seguidos de atos violentos, a ‘fratura no nível de confiança’ teria despencado também entre os que contavam com o apoio do Exército ao possível golpe. Uma indicação da opção deste pelo processo democrático.

Em 21 de janeiro de 2023, o atual Presidente da República nomeou o general Tomás Miguel Ribeiro Paiva como novo Comandante do Exército. Antes disso, no início de janeiro, muito me alegrou ouvir seu contundente pronunciamento legalista. Percebi que a corrente legalista não estava morta e sua voz ressurgia. Por que ela não se expressou anteriormente? Por que os chefes militares não deram ordem de prisão ao anterior Presidente, diante de suas ações e pronunciamentos golpistas? Tais medidas não poderiam ser tomadas individualmente pelos comandantes sem respaldo em forças internas e externas, como aconteceu no golpe militar de 1964.

Precisamos fortalecer e apoiar as forças legalistas em defesa de nossa democracia, sem deixar de condenar e punir crimes cometidos. Porém, minha confiança, eu a deposito em Cristo e na união daqueles que lutam pelo avanço da humanidade!