Estender a mão
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O nosso caótico cotidiano nos leva a um ritmo de vida que, na maioria das vezes, não nos deixa enxergar aqueles que estão ao nosso redor e que necessitam de uma atenção especial. Muitas vezes, criamos barreiras que servem como desculpas para não olhar os pobres que estão ao nosso redor e cuja pobreza assume condições e rostos diferentes. E em cada uma dessas condições e rostos, podemos encontrar com Jesus Cristo.

Para reconhecer Cristo nos rostos marcados pela indiferença e exclusão, é preciso ter não apenas fé e uma vasta lista de orações. É preciso que tudo isso se converta em um coração solidário e misericordioso, que consiga ver no mais indigente e desprezado a imagem de Deus. Assim, nossas atitudes se tornam um culto agradável ao Senhor.

A opção de voltar nossos olhos para os pobres não pode ser algo condicionado ao tempo ou mesmo a uma metodologia pastoral. É preciso sair de si mesmo e olhar o pobre com o coração cheio de compaixão, sentindo a dor do irmão necessitado. Ao olhar para o pobre, somos portadores da graça de Deus e, desta forma, devemos ser conduzidos pelo tempo de Deus e não pelo nosso tempo, padronizado pelos nossos relógios.

Manter o olhar voltado para os pobres não é uma tarefa fácil. Mas se faz necessário para colocar em prática a fraternidade e a caridade ensinadas por Jesus. Não se trata de procurar saber o motivo pelo qual o pobre se encontra naquela situação e, sim, atuar com o comprometimento de um coração misericordioso, que acolhe sem julgar e procura dar caminhos para que o pobre mude de vida e, assim, consiga recuperar a sua dignidade, perdida em alguma circunstância da vida.

Não podemos ficar tranquilos quando caminhamos para a missa e passamos por famílias que estão às margens de uma vida digna. O olhar silencioso de muitos pobres busca por uma ajuda. Como portadores da graça de Deus, a Igreja nos convida a nos solidarizarmos com estes e traze-los para uma vida em comunidade, longe de promessas infundadas e de ideologias que os usam para benefícios próprios.

A Igreja não tem soluções globais e imediatas, mas oferece o maior de todos os tesouros, Jesus Cristo, aquele que com suas ações mostrou a presença de Deus na vida dos homens e hoje cobra das autoridades uma posição para não esquecer aqueles que a dignidade e humanidade foram violadas por um mundo perverso e desumano.

Estender a mão aos mais necessitados e menos favorecidos é um sinal de amor ao próximo, em um mundo de incertezas que prega o individualismo e a dor da exclusão. É um convite à responsabilidade de construir uma sociedade mais fraterna e justa, onde o amor e o perdão sejam constantes. É também um contraste aqueles que colocam as mãos nos bolsos e se apegam a documentos e leis para justificar a sua fé, sem ações.

Não podemos ser felizes enquanto nossas mãos não semearem a vida aos irmãos pobres, pois nossas mãos devem ser instrumentos de transformação, à luz do Evangelho.

No encontro diário com os pobres, peçamos a Maria, Rainha da Evangelização, que nos ajude a estender as mãos aos pobres com um sorriso de esperança, para amenizar o sofrimento de tantos que estão em busca de uma vida digna.