Cada um de nós deve  tomar a própria cruz
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Depois de Pedro, em nome também dos outros discípulos, ter professado a fé em Jesus como Messias e Filho de Deus, o próprio Jesus começa a falar-lhes da sua paixão. A caminho de Jerusalém, ele explica abertamente aos seus amigos o que o espera no final na cidade santa: prediz o seu mistério de morte e ressurreição, de humilhação e glória. Ele diz que deve «sofrer muito da parte dos anciãos, e, dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas, ser morto e ao terceiro dia ressuscitar» (Mt 16, 21). Mas as suas palavras não são compreendidas, porque os discípulos têm uma fé ainda imatura e demasiado ligada à mentalidade deste mundo (cf. Rm 12, 2). Pensam numa vitória demasiado terrena, e por esta razão não compreendem a linguagem da Cruz.
Perante a perspectiva de que Jesus possa falhar e morrer na cruz, o próprio Pedro rebela-se e diz-lhe: «Deus te livre de tal, Senhor; isso não há de acontecer!» (v. 22). Ele acredita em Jesus – Pedro é assim -, ele tem fé, acredita em Jesus, acredita; quer segui-lo, mas não aceita que a sua glória passe pela Paixão. Para Pedro e para os outros discípulos – mas também para nós! – a cruz é uma coisa desconfortável, a cruz é um “escândalo”, enquanto Jesus considera um “escândalo” fugir da cruz, o que significaria fugir da vontade do Pai, da missão que Ele lhe confiou para a nossa salvação. É por isso que Jesus responde a Pedro: «Afasta-te, Satanás! Tu és para mim um estorvo, porque os teus pensamentos não são os de Deus, mas os dos homens!» (v. 23). Dez minutos antes, Jesus louvou Pedro, prometeu-lhe que ele seria a base da sua Igreja, o fundamento; dez minutos depois disse-lhe: “Satanás”. Como é que isto pode ser compreendido? Acontece a todos nós! Em momentos de devoção, de fervor, de boa vontade, de proximidade ao nosso semelhante, olhamos para Jesus e vamos em frente; mas nos momentos em que ele vai ao encontro da cruz, fugimos. O diabo, Satanás – como diz Jesus a Pedro – tenta-nos. É típico do espírito mau, é caraterístico do diabo afastar-nos da cruz, da cruz de Jesus.
Dirigindo-se a todos, Jesus acrescenta: «Se alguém quiser vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me» (v. 24). Desta forma Ele mostra o caminho do verdadeiro discípulo, realçando duas atitudes. A primeira é «renegar-se a si próprio», o que não significa uma mudança superficial, mas uma conversão, uma inversão de mentalidade e de valores. A outra atitude é tomar a própria cruz. Não se trata apenas de suportar pacientemente tribulações diárias, mas de suportar com fé e responsabilidade aquela parte do esforço, aquela parte do sofrimento que a luta contra o mal implica. A vida dos cristãos é sempre uma luta. A Bíblia diz que a vida do crente é uma milícia: lutar contra o espírito maligno, lutar contra o Mal.
Assim, o compromisso de “tomar a cruz” torna-se participação com Cristo na salvação do mundo. Pensando nisto, façamos com que a cruz pendurada na parede de casa, ou a pequena que usamos ao peito, seja sinal do nosso desejo de nos unirmos a Cristo no serviço aos nossos irmãos com amor, especialmente aos mais pequeninos e mais frágeis. A cruz é um sinal santo do Amor de Deus, é um sinal do Sacrifício de Jesus, e não deve ser reduzida a um objeto de superstição ou a uma joia ornamental. Cada vez que olhamos para a imagem de Cristo crucificado, pensemos que Ele, como verdadeiro Servo do Senhor, cumpriu a Sua missão dando a vida, derramando o Seu sangue para a remissão dos pecados. E não nos deixemos levar para o outro lado, para a tentação do Maligno. Consequentemente, se quisermos ser Seus discípulos, somos chamados a imitá-lo, dedicando sem reservas a nossa vida por amor a Deus e ao próximo.
Que a Virgem Maria, unida ao seu Filho até ao Calvário, nos ajude a não retroceder perante as provações e sofrimentos que o testemunho do Evangelho implica para todos nós.