23º Domingo do Tempo Comum
Coluna organizada por Nilo Pereira, segundo a exegese do Pe. Fernando Armellini, scj
1ª Leitura (Exequiel 33,7-9)
A sentinela é aquele soldado que monta guarda, que vigia para que o seu grupo não seja atacado de surpresa pelos inimigos.
Nos tempos antigos, cada cidade tinha sentinelas que vigiavam dia e noite. Postavam-se nas torres dos muros da cidade ou no alto das montanhas e controlavam tudo o que acon-tecia nos arredores. Se notassem movimentos suspeitos, se observassem os inimigos se aproximando, imediatamente davam o alarme, tocavam o berrante, para avisar o povo que o perigo estava próximo.
E quando a sentinela se distraia, cochilava, pegava no sono, ou se, tendo percebido o peri-go, não tocava?
Nestes casos, era considerado responsável pela derrota do seu povo. Se, ao contrário, ficava atenta e tocava o berrante mas o povo não lhe dava ouvidos e não se preocupava em nada com o seu sinal e continuava vivendo tranquilamente? Nestes casos, o desastre que viesse a ocorrer não lhe era imputado.
Todos nós somos profetas, todos nós somos sentinelas, somos responsáveis, em parte, pelo destino dos nossos irmãos. Quem vê alguém se comportando mal, não pode repetir a frase de Caim: “Por acaso sou eu o guarda do meu irmão?” (Gên 4,9).
2ª Leitura (Romanos 13,8-10)
Para entender esta leitura é preciso conhecer o contexto do qual é tirada, isto é, é preciso conhecer qual é o problema que Paulo está questionando.
No capítulo treze da Carta aos Romanos, ele fala das obrigações do cidadão em relação às autoridades do Estado. Assim como nós fazemos hoje, também os primeiros cristãos se perguntavam: “Devemos observar as leis? Os impostos devem ser pagos? Pode um cris-tão roubar do Estado, arruinar ou destruir o patrimônio, praticar sabotagens?”
Na época em que Paulo escreve esta carta, em Roma o novo imperador Nero começa a se revelar de um temperamento com tendências à excentricidade. Muitos estão insatisfei-tos com o sistema político em vigor. Nos primeiros versículos do capítulo, o apóstolo reco-menda a todos para não se deixar levar por aventuras, para serem cidadãos exemplares, respeitando os governantes, as leis e o patrimônio do Estado.
Na segunda parte da carta, que constitui a leitura de hoje, Paulo expõe um princípio geral que ajuda na solução não só deste, mas de qualquer outro problema moral. Se não sabe-mos qual a melhor atitude a ser tomada, quando não temos certeza sobre as escolhas a ser feitas, é preciso tomar como ponto de referência o mandamento do qual derivam todas as leis: “Ama o teu próximo como a ti mesmo” (vers.9).
Ao mantermos vivo o princípio do amor ao irmão, é fácil entender que todas as leis do Es-tado, quando justas e promovem o bem comum, devem ser observadas. A sua violação é pecado.