Quem ama sabe mudar, se deixa mover e se comove
No Evangelho de Mt 15, 21-28 narra o encontro de Jesus com uma cananeia, fora do território de Israel. Ela pede-lhe que liberte a sua filha, atormentada por um demónio, mas o Senhor não presta atenção. Ela insiste, e os discípulos aconselham-no a conceder-lhe o que pede para que ela se calme, mas Jesus explica que a sua missão se destina aos filhos de Israel, e usa esta imagem: «Não é bom pegar no pão dos filhos e atirá-lo aos cachorrinhos». E a mulher, corajosa, responde: «É verdade, Senhor, e, no entanto, os cachorrinhos comem as migalhas que caem da mesa dos seus donos». Então Jesus diz-lhe: «“Mulher, grande é a tua fé! Que te aconteça o que desejas”. E, a partir daquele momento, a sua filha ficou curada» (vv. 26-28). Que bela história! E isto aconteceu a Jesus.
Vemos que Jesus muda de atitude, e o que o faz mudar é a força da fé da mulher. Reflitamos, pois, brevemente acerca destes dois aspetos: a mudança de Jesus e a fé da mulher.
A mudança de Jesus. Ele dirigia a sua pregação ao povo eleito; depois, o Espírito Santo levaria a Igreja até aos confins do mundo. Mas aqui, poderíamos dizer, dá-se uma antecipação, na qual, no episódio da cananeia, se manifesta já a universalidade da obra de Deus. É interessante esta disponibilidade de Jesus: perante a oração da mulher, ele “antecipa os planos”, diante do seu caso concreto, torna-se ainda mais condescendente e compassivo. Deus é assim: é amor, e aquele que ama não permanece rígido. Sim, permanece firme, mas não rígido. Não permanece rígido nas suas posições, mas deixa-se mover e comover; sabe mudar os próprios projetos. O amor é criativo, e nós, cristãos, se quisermos imitar Cristo, somos convidados à disponibilidade para mudar. Como nos faz bem nas nossas relações, mas também na nossa vida de fé, sermos dóceis, escutarmos verdadeiramente, deixarmo-nos comover por causa da compaixão e do bem dos outros, como fez Jesus com a cananeia. Docilidade para mudar. Corações dóceis para mudar.
Vejamos então a fé da mulher, que o Senhor elogia, dizendo que é «grande» (v. 28). Para os discípulos, só a sua insistência parece grande, mas Jesus vê a fé. Se pensarmos bem, aquela mulher estrangeira provavelmente pouco ou nada sabia das leis e dos preceitos religiosos de Israel. Em que consiste então a sua fé? Não é rica de conceitos, mas de factos: a cananeia aproxima-se, prostra-se, insiste, mantém um diálogo estreito com Jesus, supera todos os obstáculos para lhe falar. Eis a concretude da fé, não é um rótulo religioso, mas uma relação pessoal com o Senhor. Quantas vezes caímos na tentação de confundir a fé com um rótulo! A fé da mulher não é feita de regras teológicas, mas de insistência: bate à porta, bate, bate; não é feita de palavras, mas de oração. E Deus não resiste quando é implorado. Por isso disse: «Pedi e dar-se-vos-á, procurai e encontrareis, batei e abrir» (Mt 7, 7).
Irmãos e irmãs, à luz de tudo isto, podemos colocar-nos algumas questões. Partindo da mudança de Jesus, por exemplo: sou capaz de mudar de opinião? Sou capaz de ser compreensivo, de ser compassivo, ou mantenho-me rígido nas minhas posições? Há alguma rigidez no meu coração? O que não é firmeza: a rigidez é negativa, a firmeza é positiva. E a partir da fé da mulher: como é a minha fé? Está parada nos conceitos e nas palavras, ou é verdadeiramente vivida, com a oração e as ações? Sei dialogar com o Senhor, insistir com Ele, ou contento-me em recitar uma fórmula bonita? Que Nossa Senhora nos torne disponíveis para o bem e concretos na fé.