Transfiguração do Senhor – Leituras Iniciais
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Coluna organizada por Nilo Pereira, segundo a exegese do Pe. Fernando Armellini, scj

1ª Leitura (Daniel 7,9-10.13-14)

Em uma dramática visão noturna, Daniel vê sair do mar (símbolo da desordem, do caos) quatro enormes bestas, representantes dos reinos tirânicos e sanguinários que se sucederam no mundo e oprimiram Israel, o povo de Deus: os babilônios, os medos e os persas. A quarta besta, a pior de todas, indica o reino de Alexandre Magno e de seus sucessores, entre eles o particularmente malvado Antíoco Epífanes. Ele está governando exatamente no tempo em que é escrito o livro de Daniel (ler Daniel 7,2-8).

Na outra cena grandiosa descrita na primeira parte desta leitura, o vidente testemunha: no céu são colocados tronos e um ancião (que indica o próprio Deus) assenta-se para o julgamento. Eis a sentença: é retirado o poder das bestas e a última é morta, destruída e lançada ao fogo (vers.9-12).

O Filho do Homem (vers.13) é uma expressão hebraica que significa simplesmente homem. Quem é ele? Quem ele representa? Não vem do mar como os quatro monstros, mas do céu, isto é, de Deus, Ele não representa um indivíduo singular, mas todo Israel, que depois de tanta tribulação suportada sob Antíoco, recebe de Deus um reino eterno, que não terá fim, que não será jamais destruído. Todos os outros povos lhe serão submetidos, mas não serão oprimidos porque o novo rei tem um coração de homem.

Com essa promessa (escrita aproximadamente 160 anos a.C.), o autor quer infundir coragem e esperança no seu povo. Quando será cumprida essa profecia? Com a independência política que efetivamente Israel conquistará poucos anos depois? Não! Como sempre acontece, a autoridade é entendida como poder e domínio e também os novos libertadores – os Macabeus – se transformarão logo em aproveitadores. (Macabeus foram os integrantes de um exército rebelde judeu que assumiu o controle de Israel, reimpuseram a religião judaica, expandiram as fronteiras de Israel e reduziram no país a influência da cultura grega).

A profecia realizou-se em plenitude somente com a vinda de Jesus. É ele o “filho do homem”.

 

2ª Leitura (II Pedro 1,16-19)

Lá pelo fim do século I da era cristã, os descrentes tinham difundido um malévolo boato dizendo: “Os cristãos falam de uma vinda do Senhor no fim dos tempos, anunciam uma vida e um mundo futuros”, e perguntavam zombando: “Onde está a promessa de sua vinda? Tudo continua igual desde o princípio do mundo” (II Pedro 3,4).

A leitura retoma uma parte da resposta que o autor da segunda carta de Pedro dá a esses ataques. Recorda a experiência feita “sobre a montanha” pelos discípulos que conheceram o Senhor Jesus.

Para nós também, nos dias de hoje, a transfiguração de Jesus conserva o mesmo significado que tinha para os cristãos do fim do século I da era cristã: é um anúncio da última manifestação do Senhor, que, como “estrela da manhã”, um dia brilhará em nossos corações.