Frei Clemente da Costa Neves
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A 17 de março de 1923 nasceu em Perdões (SP) Manoel Vicente da Costa Neves Neto que viria a se tornar o Frei Clemente, operoso sacerdote junto à comunidade ituana. Como carmelita foi bom confessor, pregador e professor no seminário. Depois serviu como pároco na Matriz Candelária (1994-1998). Faleceu em Itu a 15 de agosto de 2000.

Uma das vocações sacerdotais que despertou foi a do padre Paulo D’Elboux, jesuíta ituano, residente em São Paulo. Publicamos hoje as suas memórias de menino, lembranças do Frei Clemente que ficam como homenagem no centenário de nascimento do antigo pároco.

A vida religiosa de minha família estava profundamente ligada à Igreja do Carmo e aos frades carmelitas. Papai fazia parte da Congregação Mariana, ostentando orgulhosamente a fita azul na missa dominical, oficio da Imaculada Conceição e procissões.

Aos sete anos tínhamos o Catecismo para a Primeira Comunhão, depois da qual fazíamos parte da Pequena Liga de Nossa Senhora do Carmo, versão infantil carmelitana da Cruzada da Eucaristia. Como para os congregados marianos, havia a missa mensal, quando quase todos compareciam, lotando a igreja.

Na Pequena Liga eram recrutados os coroinhas que ajudavam os frades nas celebrações da igreja, nas capelanias e fazendas. Havia no grupo uma hierarquia de funções. Os mais antigos ficavam com as mais nobres no serviço do altar, manejar o turíbulo nas bênçãos e missas cantadas, tocar os sinos da igreja antes das missas ou na hora da Ave Maria… Os outros eram coadjuvantes.

Uma das grandes alegrias era aos domingos ir assistir à matinê do Cineminha do Carmo.

A maioria dos frades da comunidade carmelitana era holandesa que tinha como tarefa atender à igreja e suas pastorais e o seminário, anexo ao convento.

Lembro-me daquela época: Frei Elias, o prior; os Freis: Ambrósio, Eustáquio, Rafael, Cirilo, Crisóstomo, Estanislau, Mario, Constâncio…

Frei Clemente, um dos brasileiros, era o mais jovem, recém ordenado. Estava responsável pelos coroinhas, ajudava na catequese e Pequena Liga. Sabia motivar os encontros, os passeios, as atividades que seduzem o mundo pré-adolescente. Um dos mais apreciados era passar o dia na ilha no Rio Tietê onde o convento tinha um rancho sob os cuidados do “seu” Elizário e seu barco. Era uma aventura atravessar a correnteza e uma festa brincar no local onde nadávamos.

Depois da “reza” e Ofício de Nossa Senhora, podíamos frequentar a sede da Congregação Mariana, no subsolo do Seminário, onde havia revistas e jogo de pingue-pongue.

A ligação do Frei Clemente com os meninos era muito forte. A alegria, jovialidade, dinamismo e felicidade contagiavam a todos, naturalmente despertando a simpatia para a vida carmelitana.

Não me tornei um Frei porque os jesuítas atravessaram meu caminho. Com 13 anos estava no seminário em Nova Friburgo, longe de Itu e da família para seguir Santo Inácio!

Guardo, porém, com muito carinho, a saudosa imagem e lembrança daquele que me despertou, na minha infância, o desejo de ser padre e ter a graça de ajudar as pessoas a serem felizes.

Obrigado, Frei Clemente!

Pe. Paulo de Arruda D’Elboux SJ