Defesa da natureza e dos guardiões da floresta
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As florestas são os pulmões da natureza, e seus guardiões constituem o sistema de defesa de sua respiração – e da nossa também. A Mata Atlântica, que passa por 17 estados brasileiros e abraça Itu, está ameaçada de extinção.

Quando visitava esta cidade, em minha infância e juventude, seu clima era ameno e as águas do rio Tietê, em Salto, eram límpidas. Atualmente, estão poluídas; e a população ituana reclama da secura insuportável do ar, de dificuldade em respirar e falta d’água. Isto acontece porque foram mortas nossas árvores e descuidado seu abastecimento hidráulico.

Em maio de 2023, a Câmara dos deputados votou o desmonte do Ministério do Meio Ambiente, a extinção do Ministério dos Povos Originários, a permissão para o aumento da devastação da Mata Atlântica e o ‘marco temporal’, restringindo a ocupação territorial dos povos originários e ameaçando muitas comunidades indígenas. Na aprovação final da reorganização dos ministérios, os dois acima mencionados foram mantidos, mas esvaziados de importantes funções.

Apesar dos ataques destrutivos contra essas instituições, a natureza e o clima de nosso país, em 05 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, ocorreu um ato de reparação do governo, demonstrando que a pauta ambiental e a proteção dos povos originários da Amazônia e da Mata Atlântica permanecem prioritárias. Foi lançado novo plano para enfrentar o desmatamento na Amazônia e criar unidades de conservação. Logo depois, o STF adiou a votação sobre a constitucionalidade do ‘marco temporal’.

A experiência que tive ao me embrenhar na floresta amazônica me desvendou a natureza selvagem em seu estado primitivo, permitindo-me estabelecer contato com a origem do mundo e seu silêncio primordial. O fato de esta floresta e seus guardiões, os povos originais, estarem sendo ameaçados de extinção é uma perigosa advertência à nossa relação com a fonte e mistério da vida, com o ar que respiramos, com o sopro divino. Tal ameaça se manifesta no alastramento das forças destrutivas no planeta e em sua natureza, no mundo todo, em nosso país e em nossa vida social. Somos assim colocados diante da crucial alternativa entre a destruição ou renovação da humanidade.

Depois de ter realizado um trabalho de treinamento, em Manaus, um grande amigo me levou para conhecer a floresta, e, ao atravessarmos um igapó, nossa canoa começou a afundar. Não sabendo nadar, entrei em pânico. Com medo de cobras e jacarés, comecei a me debater e a beber muita água. De repente, ocorreu-me que eu não queria ir para meu encontro final com Deus dominada pelo medo. Fazendo respirações profundas, fui me acalmando. Sem perceber, meu corpo começou a flutuar. Contemplei extasiada a copa das árvores. Elas pareciam imensas asas de um anjo protegendo-me. Um sentimento de profunda paz e silêncio tomou conta de mim. Ao voltar desse estado interior, percebi que podia direcionar meu corpo para as margens com a ajuda das mãos. Neste dia, renasci e tornei-me filha da floresta e defensora do escudo protetor de nossos povos originários contra a ação mortífera humana que asfixia o sopro da vida.