Peregrinos da esperança
Dom Dirceu de Oliveira Medeiros
Bispo de Camaçari (BA)
“Todo escriba (…) é semelhante a um homem que tira do seu tesouro coisas novas e velhas.” (Mt 13, 52)
O Concílio Vaticano II nos ensinou a ler os sinais dos tempos, sempre a partir da Palavra de Deus e com o olhar do Cristo Ressuscitado. É preciso sempre partir de Cristo, a Palavra Encarnada do Pai.
Se é verdade que precisamos ter um olhar na direção do céu, pois somos cidadãos do céu, também é verdade que é preciso ler a realidade com os óculos da fé. O cenário que se descortina diante de nós é cada vez mais desafiador. As pesquisas têm revelado o aumento do número dos chamados “descrentes”, sem Igreja e etc.
Como repropor a beleza do Evangelho e ungir tais pessoas com o óleo da alegria? O grande areópago que se revela a nós hoje é composto por essa realidade e pelo mundo virtual. Ainda não somos capazes de transitar por esse terreno, as vezes fértil e as vezes pantanoso.
Mas o que mais salta aos olhos é constatar que as mudanças em curso apontam para algo muito mais estrutural que conjuntural. Não se trata de mudanças em aspectos secundários ou de menor relevância, mas uma mudança profunda que trará algo novo, certamente com aspectos favoráveis e desfavoráveis à fé. Sabiamente as diretrizes da Igreja tem falado em mudança de época e não em época de mudanças. Destacaria em particular três novos dados que marcam nossa época e em pouco tempo. A velocidade das mudanças tem sido cada vez mais acelerada. Há quem afirme que a tecnologia está evoluindo mais rápido do que a capacidade humana.
Mas voltemos aos três novos dados que impactaram a todos nós e, consequentemente a Igreja e o desafio da Evangelização. Primeiramente o crescimento de um extremismo político que gerou uma polarização sem precedentes e crescente na sociedade. Esse extremismo veio acolitado de um abandono do razoável ou da razão. Este irracionalismo se veste de negacionismo.
O segundo aspecto que emergiu em tão pouco tempo é a força das redes sociais e novas tecnologias que se tornaram um lugar, que por um lado é um recurso, mas por outro, um desafio à convivência humana e a Evangelização. Por fim, a pandemia, que impactou a humanidade em todos os aspectos: econômico, social, psicológico e outros. Não devemos subestimar suas consequências.
Ao convocar o Jubileu do Ano de 2025, o Papa Francisco, em sua carta ao Prefeito para o Dicastério para a Nova Evangelização, considera o impacto da pandemia e diz: “Mas, nos últimos dois anos, não houve nação que não tenha sido transtornada pela inesperada epidemia (…) O próximo Jubileu poderá favorecer imensamente a recomposição dum clima de esperança e confiança, como sinal dum renovado renascimento do qual todos sentimos a urgência. Por isso escolhi o lema Peregrinos de esperança.”
Atendamos ao apelo do Santo Padre, profeta da Esperança e desde já nos preparemos!