A agonia e o Amor de Jesus
Foi na sexta-feira santa de 1868, que o padre Taddei deu mais um passo na devoção ao Coração de Jesus junto à comunidade de Itu. Já escrevemos aqui que ele se encantou especialmente com a igreja do Bom Jesus, porque nela havia pintado no teto, um imenso coração, irradiando suas bênçãos. A pintura, de autoria de um desses artistas inspirados, do período colonial, permanece oculta nas tábuas do velho forro da igreja, sob outras obras posteriores.
Taddei escolheu esse templo para viver e cuidar, para ser dele o capelão, um reitor zeloso: confessor e pregador. Poderia celebrar a missa diariamente, para não descuidar nenhum instante das virtudes da alma daquela gente que acorreu à sua fala fácil e cativante. Fez diversas reformas na igreja, para que as velhas paredes de taipa suportassem a grandeza dos projetos que vislumbrava para ela.
Dando continuidade a uma bela iniciativa de seu superior, o padre Antonio Onorati, Bartolomeu Taddei pediu que se pintassem algumas imagens referentes ao Calvário, para servir de cenário, representando Jesus crucificado, entre os ladrões, Maria e suas acompanhantes, testemunhas daquele acontecimento terrível da véspera da Páscoa em Jerusalém. Colocadas diante do altar-mor da igreja, de longe se via, aos pés do Divino Mestre, a figura de João, o discípulo amado, revelando seu compromisso com o Amigo.
Naquela tarde da Paixão de 1868, pela primeira vez, na igreja do Bom Jesus, Taddei pregou o Sermão das Sete Palavras ou, como ele chamava, a cerimônia das Três Horas de Agonia, bela tradição que parece ter se iniciado no México e se espalhou pela América espanhola e Europa, por obra dos Jesuítas. Depois o próprio Taddei levou a piedosa pregação a diversos lugares do Brasil.
Com a igreja toda escura e em silêncio, o sacerdote à frente do calvário, cita cada uma das sete frases ditas por Jesus já crucificado, reunidas dos Evangelhos e faz uma reflexão a cada uma, trazendo delas um uso para a vida do povo. Em diálogo, o coro canta belos motetes. Naquele tempo eles foram compostos pelo maestro Elias Álvares Lobo, notável compositor ituano, obras ainda cantadas hoje pelo Coral Vozes de Itu. O povo recebeu a mensagem com um misto de tristeza e esperança, buscando o significado dos sermões para a vida futura.
Coroando a pregação, Taddei exortou os fiéis sobre a renúncia de Jesus à vida, envolto em sofrimento, sobre a agonia como um gesto superior de grandeza. Em seguida lembrou que Jesus, logo que morreu, teve seu Coração perfurado pela lança do soldado romano, como sinal de expansão de seu Amor infinito: um Coração ferido se transformou em fonte de redenção.
A bela cerimônia das Três Horas de Agonia de Jesus com a sua dramaticidade, seu teatro de fé, ao mesmo tempo de beleza e tristeza, fortaleceu a crença de que o Amor pela Humanidade se concretizara a partir daquele Coração transpassado pela lança.
Luís Roberto de Francisco
Biblioteca Histórica “Padre Luiz D’Elboux”