CF 2023: A realidade da fome
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“Pois eu estive com fome e me destes de comer, estive com sede e me destes de beber, fui estrangeiro e me acolhestes, estive nu e me vestistes, fiquei doente e me visitastes, estive na prisão e me fostes ver.” (Mt 25, 35-36)

Quando recorremos aos Evangelhos, não é difícil constatar que o Reino de Deus se faz presente na acolhida de Jesus a todas as pessoas, sobretudo aquelas socialmente excluídas: pagãos, prostitutas, samaritanos, leprosos, possessos, mulheres, crianças, doentes. De fato, Jesus não exclui ninguém, todavia, anuncia o Reino de Deus preferencialmente aos pobres e excluídos.

Sabiamente, o Papa Francisco convoca a Igreja e a sociedade para ações coletivas, denunciando as desigualdades sociais e a exclusão das pessoas mais pobres do acesso à alimentação básica:

[…] a fome não é só uma tragédia, mas também uma vergonha. Em grande parte, é provocada por uma distribuição desigual dos frutos da terra, à qual se acrescentam a falta de investimentos no setor agrícola, as consequências das mudanças climáticas e o aumento dos conflitos em várias regiões do planeta. Por outro lado, descartam-se toneladas de alimentos. Diante desta realidade, não podemos permanecer insensíveis ou paralisados. Somos todos responsáveis.”
(PAPA FRANCISCO. Mensagem para os 75 anos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura – FAO, 16 de outubro de 2020)

O Brasil é um país reconhecido internacionalmente por ser um dos maiores produtores de alimentos: milho, soja, trigo, cana de açúcar, carne etc. Mesmo assim, a fome tornou sofrida a vida de milhares de pessoas. O texto-base da CF-2023 convida-nos a uma conversão ao Evangelho, a ter empatia diante das necessidades do próximo e a repartir o pão com quem nada tem. O Reino de Deus acontece quando partilhamos com os nossos irmãos e irmãs e os ajudamos a construir caminhos de libertação do sistema que os oprime. Assim expressa a canção “O Que Posso Ofertar”, de Zé Vicente: “O pouco com Deus é muito, o muito sem Deus é nada, o pouco que repartimos, é fartura abençoada.”

A partilha é um valor sagrado para nós cristãos. Entretanto, é necessário que olhemos com criticidade as estruturas que cooperam para a manutenção da fome, pois trata-se de atenção e cuidado com a dignidade humana.

“Viver com fome, a ponto de perder a própria dignidade, arrastar-se pela rua, revirar o lixo e morrer de fome não é algo natural ou desejado por Deus. No Brasil, a fome não é simplesmente um problema ocasional, é um fenômeno social e coletivo, estrutural, produzido e reproduzido no curso ordinário da sociedade, que normatiza e naturaliza a desigualdade, é um projeto de manutenção da miséria em vista de perpetuação no poder. Já afirmava a nossa escritora Carolina Maria de Jesus: ‘quem inventou a fome são os que comem’.” (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, Campanha da Fraternidade 2023: Texto-Base. Brasília: Edições CNBB, 2022, p.24)

(adaptado de texto de PROVÍNCIA MARISTA BRASIL CENTRO-SUL, Fraternidade e Fome – Subsídio para a vivência da Campanha da Fraternidade 2023, [e-book], 2023)