Papa Francisco: na Quaresma, seguir Jesus e assumir nossa cruz
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Divulgada na última sexta-feira (17/02), a mensagem do Papa Francisco para a Quaresma deste ano, intitulada “Ascese quaresmal, itinerário sinodal” é um convite a pôr-se a caminho no seguimento de Jesus para aprofundar e acolher o seu mistério de salvação. Na mensagem, Francisco destaca a relação entre o caminho quaresmal e o caminho sinodal que nós, como Igreja, nos comprometemos a realizar, radicados na tradição e abertos para a novidade.

O Papa Francisco recorda que “o evangelho da Transfiguração é proclamado, a cada ano, no II Domingo da Quaresma”.

Neste tempo litúrgico, o Senhor nos toma consigo e nos conduz. Embora os nossos compromissos ordinários nos peçam para permanecer nos lugares habituais, transcorrendo uma vida cotidiana frequentemente repetitiva e por vezes enfadonha, na Quaresma somos convidados a subir ‘a um alto monte’ junto com Jesus, para viver com o Povo santo de Deus uma particular experiência de ascese.

Ascese quaresmal e experiência sinodal

A ascese quaresmal é um empenho, sempre animado pela graça, no sentido de superar as nossas faltas de fé e as resistências em seguir Jesus pelo caminho da cruz. Aquilo de que Pedro e os outros discípulos tinham necessidade. 

Para aprofundar o nosso conhecimento do Mestre, é preciso deixar-se conduzir por Ele ao alto, rompendo com a mediocridade e as vaidades. É preciso pôr-se a caminho, um caminho em subida, que requer esforço, sacrifício e concentração, como uma excursão na montanha.

“Estes requisitos são importantes também para o caminho sinodal, que nos comprometemos, como Igreja, a realizar”, ressalta o Papa, convidando a refletir sobre a relação entre “a ascese quaresmal e a experiência sinodal”.

Refletindo sobre a subida de Jesus e dos discípulos ao Monte Tabor, “podemos dizer que o nosso caminho quaresmal é sinodal, porque o percorremos juntos, discípulos do único Mestre. Sabemos que Ele próprio é o Caminho e, por conseguinte, tanto no itinerário litúrgico quanto no do Sínodo, a Igreja não faz outra coisa senão entrar cada vez mais profunda e plenamente no mistério de Cristo Salvador”.

Ao chegar ao Monte Tabor, Jesus «se transfigurou diante deles: o seu rosto resplandeceu como o sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz».

Aqui aparece o ‘cume’, a meta do caminho. No final da subida e enquanto estão no alto do monte com Jesus, os três discípulos recebem a graça de O verem na sua glória, resplandecente de luz sobrenatural, que não vinha de fora, mas irradiava d’Ele mesmo. A beleza divina desta visão mostrou-se incomparavelmente superior a qualquer cansaço que os discípulos pudessem ter sentido quando subiam ao Tabor.

Com frequência também o processo sinodal se apresenta árduo e por vezes podemos até desanimar; mas aquilo que nos espera no final é algo, sem dúvida, maravilhoso e surpreendente, que nos ajudará a compreender melhor a vontade de Deus e a nossa missão a serviço do seu Reino.

O caminho sinodal está radicado na tradição da Igreja

Segundo o Papa, “a experiência dos discípulos no monte Tabor torna-se ainda mais enriquecedora quando, ao lado de Jesus transfigurado, aparecem Moisés e Elias, que personificam respectivamente a Lei e os Profetas. A novidade de Cristo é cumprimento da antiga Aliança e das promessas; é inseparável da história de Deus com o seu povo, e revela o seu sentido profundo”.

De forma análoga, o caminho sinodal está radicado na tradição da Igreja e, ao mesmo tempo, aberto para a novidade. A tradição é fonte de inspiração para procurar estradas novas, evitando as contrapostas tentações do imobilismo e da experimentação improvisada. O caminho ascético quaresmal e, de modo semelhante, o sinodal, têm como meta uma transfiguração, pessoal e eclesial. Uma transformação que, em ambos os casos, encontra o seu modelo na de Jesus e realiza-se pela graça do seu mistério pascal.

Para que, neste ano, se possa realizar em nós tal transfiguração, o Papa propôs dois caminhos que devem ser percorridos “para subir junto com Jesus e chegar com Ele à meta”.

A Quaresma orienta-se para a Páscoa

O primeiro caminho, “diz respeito à ordem que Deus Pai dirige aos discípulos no Tabor, enquanto estão a contemplar Jesus transfigurado. A voz da nuvem diz: «Escutai-O». Assim a primeira indicação é muito clara: escutar Jesus. A Quaresma é tempo de graça na medida em que nos pusermos à escuta d’Ele, que nos fala”. Portanto, escutar Jesus “na Palavra de Deus, que a Igreja nos oferece na Liturgia: não a deixemos cair em saco rasgado; se não pudermos participar sempre da missa, ao menos leiamos as Leituras bíblicas de cada dia valendo-nos até da ajuda da internet”, ressalta Francisco.

Além das Sagradas Escrituras, o Senhor nos fala também nos irmãos, “sobretudo nos rostos e vicissitudes daqueles que precisam de ajuda”, frisa o Papa, acrescentando outro aspecto, “muito importante no processo sinodal: a escuta de Cristo passa também através da escuta dos irmãos e irmãs na Igreja; em algumas fases, esta escuta recíproca é o objetivo principal, mas permanece sempre indispensável no método e estilo de uma Igreja sinodal”.

O segundo caminho a ser percorrido nesta Quaresma é o de “não se refugiar numa religiosidade feita de acontecimentos extraordinários, de sugestivas experiências, levados pelo medo de encarar a realidade com as suas fadigas diárias, as suas durezas e contradições. A luz que Jesus mostra aos seus discípulos é uma antecipação da glória pascal, e é rumo a esta que se torna necessário caminhar seguindo «apenas Jesus e mais ninguém». A Quaresma orienta-se para a Páscoa: o «retiro» não é um fim em si mesmo, mas prepara-nos para viver – com fé, esperança e amor – a paixão e a cruz, a fim de chegarmos à ressurreição”.

“Queridos irmãos e irmãs, que o Espírito Santo nos anime nesta Quaresma na subida com Jesus, para fazermos experiência do seu esplendor divino e assim, fortalecidos na fé, prosseguirmos o caminho com Ele, glória do seu povo e luz das nações”, conclui Francisco.

(Fonte: Vatican News)

Veja íntegra da mensagem do Papa Francisco neste link.