Tolerância e limite
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Quem educa, sabe: é preciso estabelecer limites!

Sejam professores, educadores sociais ou catequistas. E também os pais, avós, tios e outros tantos familiares que participam da educação das crianças.

Todos que, de alguma forma, participam de algum processo educativo sabem que, para a educação realmente acontecer, é preciso estabelecer limites e ensinar as crianças a importância de sua existência.

Mas muitos de nós crescemos com a ideia de que limites são empecilhos ao nosso crescimento, ao nosso desenvolvimento. “Quando eu crescer, quero fazer tudo o que eu puder!” – dizíamos. Ao crescermos, no entanto, descobrimos que ser adulto significa obedecer limites e cuidar para que eles sejam respeitados. Afinal, a vida em sociedade depende deles, não é mesmo?

A Justiça se baseia na noção de limites. As leis são escritas sobre a noção de dever e de limites. Elas estabelecem o que devemos fazer e o que não podemos fazer.

No entanto, como cristãos, somos chamados a ser tolerantes. Em diversos momentos de sua vida pública, Jesus nos apresenta uma nova maneira de nos relacionarmos. Para além de sermos concidadãos, pede que sejamos irmãos e chamemos a Deus de “Pai”.

Qual a tolerância que temos (ou deveríamos ter) com nossos irmãos? É Jesus que nos ensina: “Perdoar setenta vezes sete.” Hoje entendemos melhor: “Perdoar sempre!”

Perdoar sempre significa ser sempre tolerante a ponto de permitir que nosso irmão faça tudo o que quiser? A tolerância cristã deve sempre se impor às regras de convivência em sociedade?

Essa questão esteve presente na mente e no coração de muitos cristãos que verdadeiramente procuraram viver sua fé encarnada na vida humana em sociedade. A busca pela resposta nem sempre foi um caminho fácil. E nem sempre foi uma jornada vitoriosa, em que uma resposta clara e precisa foi encontrada e pôs fim à busca. Muitos de nós ainda continuamos a procurar.

Sem o intuito de esgotar a reflexão, entendo que tolerância e limites não são opositores nem excludentes. Afinal, a noção de tolerância – aceitar o diferente – traz em si a noção de limite. O diferente está além daquilo que eu considero semelhante, está além de um limite.

Quando toleramos, fazemos em nome de algo. Para acolher, para aproximar, para não criar conflito desnecessário, para não complicar relações já difíceis, para não excluir, para não afastar. Estamos falando especialmente das relações humanas, do cuidado com as pessoas.

Mas o que fazer quando a atitude do meu irmão traz consequências danosas para outras pessoas? “Perdoar sempre”, disse Jesus”. Mas perdoar meu irmão pelo seu erro significa fechar os olhos ao mal que ele provocou? É o próprio Jesus que nos indica o caminho. “Pede perdão ao seu irmão e repara o mal que você fez.”

Portanto, é preciso ser tolerante com quem é diferente, aceitar quem pensa diferente de nós; e perdoar nossos irmãos pelos seus erros, sempre. Mas a tolerância cristã não pode fechar os olhos ao mal feito a outros nossos irmãos. É preciso procurar reparar o que foi quebrado ou destruído, seja material ou não.

O amor, mandamento maior do cristão, se expressa na tolerância, mas também no respeito aos limites e no cuidado com aqueles que sofrem.