Impressões de um sacerdote sobre Bento XVI
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Padre Fernando Meira
Pároco da Paróquia Senhor do Horto e São Lázaro

A minha admiração pelo papa Bento XVI nasceu quando ele ainda era o cardeal Ratzinger. No ano 2000, eu estava na Praça de São Pedro juntamente com Dom Amaury Castanho, na preparação do Jubileu dos Bispos – era o Ano Santo – e o cardeal Ratzinger passou por lá. Dom Amaury o apontou. Houve abano de dedos por parte dele. A admiração começou ali.

Outro momento foi o dia da sua eleição, era 19 de abril de 2005, semana da “Pasquela” e eu estava em São Vicente, descansando no litoral, quando uma rádio deu a notícia e eu fiquei muito contente. Justamente nesse ano eu era Vigário Paroquial em Várzea Paulista, Paróquia de Nossa Senhora da Piedade. Estávamos preparando os jovens para 26ª Jornada Mundial da Juventude na Alemanha, com o papa João Paulo II. Durante a preparação, faleceu o papa.

O tom da jornada ficou diferente, outra expectativa. Pensei que seria uma alegria para Bento XVI, perto da sua eleição, voltar ao próprio país. Lembro-me, quando ele chegou, uma multidão próxima ao Rio Reno gritando “Benedetto” e ele acenando emocionado, em um barco, com jovens representando os cinco continentes. Algo que admiro muito em Bento XVI é a capacidade de se fazer entender, mesmo falando de questões teológicas, de doutrina e mística. A fala dele com os jovens foi espetacular!

A visita de Bento XVI, ao Brasil foi outro momento marcante. Veio para a 5ª Conferência do CELAM. No dia 11 de maio de 2007 houve um encontro com os jovens, no Pacaembu, que eu assisti. O Santo Padre, com a jovialidade própria, falou com eles com facilidade de costume. Depois houve a missa de canonização do Frei Antonio de Santana Galvão, no Campo de Marte. Dormimos ali, aguardando pelo papa. Quando ele chegou, eu estava bem na frente com a bandeira do Brasil; gritei muitas vezes “viva o doce Cristo na Terra!”, parafraseando Santa Catarina. Ele ouviu e me viu. No domingo, no programa “Fantástico” e na RAI (da Itália), a minha imagem com a bandeira ilustrou o comentário: “a alegria dos padres brasileiros acolhendo o papa Bento”.

Finalmente, o dia 11 de fevereiro de 2013 – data para mim já muito especial, por ser a festa de Nossa Senhora de Lourdes, marcante pelas revelações de sofrimento nas aparições – veio o pronunciamento do papa aos cardeais, em latim, dizendo que a idade avançada não era mais adequada para guiar a “barca de Pedro”. Foi um momento difícil, mesmo aceitando a decisão dolorosa do “pai”. A cena da sua despedida do helicóptero para Castel Gandolfo ficou calando no meu coração. Fiquei com a impressão do antigo ditado “o fim coroa a obra”, marca da simplicidade, desde o início da sua missão, quando afirmou ser o “humilde operário na vinha do Senhor!”

Quando eleito o papa Francisco, achei ímpar a sua visita ao emérito, dizendo que o Vaticano é como uma casa de família, que tem o “nono” sempre por perto. É um carinho do qual eu compartilho.

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