17 de Dezembro – Ano de 1921
As modas
(Entre duas comadres)
– Mecê já viu, comadre, como o mundo está perdido?
– Porque?
– Ora, porque, pois então mecê não está vendo, essa indecencia de andarem não só mocinhas, mas até quarentonas, e o que é peor ainda, até mulheres casadas, já mães e até avós com vestido pelo meio da perna e mostrando os braços até quase o sovaco?!
– É, comadre, isso é mesmo uma indecência, que nunca se viu no nosso tempo de moça.
– que esperança! Naquelle tempo a coisa fiava fino; ai da moça que deixava apparecer uns dois dedinhos de canella; essa não achava marido nem que fosse rica e bonita. Ainda me alembro do que succedeu p’ra uma nossa visinha, que estava com um bom casamento tratado, mas como ella era meio curriquera, um dia sahiu passear com um vestido que deixava apparecer obra de uns dois dedos de canella. Pois o que?! Naquelle mesmo dia o noivo mandou dizer a ella que procurasse outro marido, porque elle era homem serio, e porisso não podia casar com uma mulher sem vergonha que teve a coragem de sahir na rua com um vestido indecente daquelle.
-Fez muito bem aquelle homem, e se todos os noivos seguissem o seu exemplo, seria uma água fria na fervura desse accedimento que se vê hoje até no meio das famílias mais importantes.
– Pois eu, comadre, ainda que todas as mulheres perdessem a vergonha de andarem na rua quase como Eva andava no Paraiso Terrestre, na minha casa eu não admitiria semelhante indecencia, e ai da minha filha que inventasse seguir essa nova moda em pello! Eu havia de lhe mostrar p’ra que serve vara de marmello!
– É isso mesmo, comadre, estamos de perfeito accôrdo. Guerra sem descanço contra essa indecencia.
Pesquisa – Biblioteca Histórica “Padre Luiz D’Elboux” (Igreja do Bom Jesus), respeitada a ortografia original.