Deixemo-nos evangelizar pelos pobres
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por Celso Tomba
Educador e comunicador, colaborador do
Jornal A Federação. Formado em Ciências Sociais e
Pedagogia, cursa especialização em “Comunicação,
teologia e cultura”, pelo ITESP/Paulinas.

No último domingo a Igreja de todo o mundo celebrou a 5ª edição do Dia Mundial dos Pobres, data criada por iniciativa do Papa Francisco, em 2016. Como nos outros anos, Francisco elaborou uma mensagem especial, divulgada em junho deste ano, para guiar as reflexões e as iniciativas concretas em favor dos menos favorecidos. Para este ano, o Papa escolheu um trecho do Evangelho de Marcos como tema para sua reflexão: “Sempre tereis pobres entre vós” (Mc 14, 7).
Toda a reflexão de Francisco merece atenção e aprofundamento. Mas, quero me deter aqui em um aspecto que, acredito, é fundamental para pensarmos em atitudes reais frente à pobreza. Segundo o Papa Francisco, “os pobres não podem ser aqueles que apenas recebem; devem ser colocados em condição de poder dar, porque sabem bem como corresponder. Quantos exemplos de partilha diante dos nossos olhos!”
Mas, o que podem ter os pobres a oferecer a nós, que não somos – ou pelo menos não nos consideramos – pobres? Enxergamos os pobres como aqueles a quem falta algo, a quem falta muito, até mesmo o necessário. Como podem eles nos oferecer alguma coisa?
É o próprio Papa que nos responde: mesmo sofrendo a falta de muitas coisas, os pobres “conservam a dignidade de filhos de Deus que nada e ninguém lhes pode tirar. (…) Os pobres nos ensinam frequentemente a solidariedade e a partilha.”
Pensando em muitas de nossas histórias de família, podemos lembrar de situações em que, mesmo na pobreza, nossas famílias souberam se ajudar na criação dos filhos, no enfrentamento dos casos de doença, na falta de alimentos por conta do desemprego. Quantos de nós não usamos roupas de nossos irmãos e primos mais velhos? Quantos não usamos o papel de pão como base para nossos desenhos e tarefas escolares? Quantas vezes não ouvimos que “onde comem dois, comem três”? Ou “coloca mais água no feijão que chegou mais gente pro almoço”?
Infelizmente, a pobreza quase sempre esteve associada à fraqueza. E essas histórias de família muitas vezes foram deixadas de lado, como se fossem momentos ruins que precisassem ser esquecidos. E muitos de nós, que vivemos uma vida mais tranquila, sem tanta penúria, nos acostumamos aos nossos confortos e perdemos a memória familiar do enfrentamento da pobreza.
É por toda essa riqueza das histórias de vida, de enfrentamento das dificuldades e do olhar solidário que os pobres têm entre si, que o Papa Francisco nos convida: “É necessário que todos nos deixemos evangelizar pelos pobres. A nova evangelização é um convite a reconhecer a força salvífica das suas vidas, e a colocá-los no centro do caminho da Igreja. Somos chamados a descobrir Cristo neles!”
Ser seguidor de Jesus significa, em primeiro lugar, abrir o nosso coração para reconhecer as múltiplas formas de pobreza que existem no mundo de hoje. Em seguida, manifestar o Reino de Deus por meio de atitudes coerentes com a fé que professamos. Por isso, o chamado de Francisco para irmos ao encontro dos pobres lá onde eles estão. Ajudá-los, sim! Mas também “acolher a misteriosa sabedoria que Deus quer nos comunicar através deles”.