Sirvamos ao Cristo Rei
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“O meu reino não é deste mundo” (Jo 18, 36).

Caríssimos leitores e leitoras: no próximo domingo, concluindo mais um ano litúrgico, celebraremos a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. O reino de Jesus Cristo não se identifica com os reinados deste mundo, baseados no poder e na riqueza. O Reino de Deus está fundamentado na verdade e no amor.
Para entender o que Jesus está dizendo ao afirmar-se Rei, é necessário compreender seu diálogo com Pilatos, no qual o governador da província romana na Judéia pergunta se ele é o “Rei dos Judeus” (cf. Jo 18,33-37). Com esta pergunta, Pilatos quer, na verdade, receber de Jesus duas respostas. Ele pretende saber a respeito da liderança política e religiosa de Jesus.
Subindo os vários degraus de poder do Império Romano, Pôncio Pilatos era o que poderíamos chamar hoje de político profissional. Percebia muito bem a atmosfera política e social ao seu redor, as oportunidades e os perigos. Evitava, a qualquer custo, revoltas e rebeliões que pudessem demonstrar sinais de fraqueza de seu governo, tanto diante dos judeus quanto dos romanos.
Caso Jesus fosse apenas uma liderança religiosa, não representaria tanto perigo para o poder político. Todas as questões ficariam nesse espectro religioso. Porém, se a realeza de Cristo fosse uma questão de política, governo e poder, ele seria encarado como grande ameaça pelo império. Sabiamente, Jesus não respondeu objetivamente, mas fez uma afirmativa que deixou Pilatos bastante pensativo: “O meu reino não é deste mundo” (Jo 18, 36).
A confusão do poderoso Pilatos diante do humilde Jesus é fruto do seu completo desconhecimento da verdadeira identidade de Jesus. A vinda do Rei de Israel, o Messias prometido, era aguardada há séculos e fora profetizada muitas vezes por profetas como Isaías, Jeremias, Daniel e outros. Pilatos mostrou também uma visão muito estreita de um homem bastante acostumado com os poderes humanos, mas completamente alheio ao poder divino, pois o Reino de Jesus não é material, baseado em riquezas e nas alianças políticas. É um Reino espiritual, e para ter parte nele é preciso fazer aliança com Deus, antes de tudo. Assim como Pilatos, muitas pessoas ainda desconhecem o verdadeiro sentido de Cristo.
A confusão inicial de Pilatos pode ter se transformado em alívio e espanto ao ouvir o prisioneiro, Jesus, falar que ele, como Rei, veio “para dar testemunho da verdade (Jo 18,37). Uma coisa, porém, o romano entendeu bem: Jesus não tinha pretensões políticas. Não constituía, portanto, ameaça alguma para o seu governo. De fato, a única “revolução” pretendida por Jesus era a revolução do amor-caridade. Seu Reino não seria sustentado pela força das armas, da violência ou da revolta.
Acima do poder político está o poder do amor. Essa é a lição que Jesus ressaltou sempre em seu Evangelho. No lugar da ambição, Jesus pregou a entrega; em vez do orgulho, a humildade; no lugar da opressão, a liberdade; em vez da indiferença, o serviço; no lugar do ódio, o perdão; em vez do pecado, a conversão, etc. O Reino de Cristo é perene: teve início com seu nascimento, vida, morte e ressurreição, a vinda do seu Espírito, mas não terá fim. É algo muito maior do que o poder dos monarcas e dos governantes em tempos passados, presentes e futuros.
Para fazer parte desse Reino universal e eterno é necessário ouvir a voz da verdade, ou seja, a voz de Cristo. O desejo de Jesus é que o ajudemos a estabelecer e fortalecer neste mundo, desde já, um Reino de amor, justiça e paz para todos. Cada um de nós deve fazer a sua parte, combatendo diariamente as mentiras, as violências, as injustiças e as opressões que vitimizam tantos dos nossos irmãos e irmãs.
Caríssimos leitores e leitoras: busquemos o Reino de Deus e aceitemos Jesus como o único e absoluto Rei de nossas vidas. Não sirvamos aos falsos ídolos superficiais e passageiros oferecidos por este mundo. Façamos a opção real de servir a Jesus Cristo, que é Rei de todo o universo e que quer reinar também no coração de todos nós.

E a todos abençoo.
Viva Cristo Rei!
Dom Vicente Costa
Bispo Diocesano