Leituras iniciais do 30º Domingo do Tempo Comum
Coluna organizada por Nilo Pereira, segundo
a exegese do Pe. Fernando Armellini, scj
1ª Leitura (Jeremias 31,7-9)
De alguém como o profeta Jeremias que sempre faz previsões trágicas e catastróficas, nesta parte do seu livro ele faz surpreendentemente previsões alegres. Ao longo de dois capítulos (30 e 31), ele conclama para a alegria, para festas porque – diz ele – Deus trará de volta para a pátria os israelitas que, 100 anos atrás tinham sido conduzidos para Nínive pelos soldados assírios.
Evidentemente se trata dos seus filhos e netos, nascidos numa terra estrangeira. No meio dessa multidão de pessoas, há “cegos, coxos, mulheres grávidas e mulheres que deram à luz” (vers.8). O que se poderia pensar de uma caravana desse tipo? Quem se arriscaria apostar um centavo no sucesso de uma viagem dessas? Somente uma intervenção do Senhor poderia levar a termo uma aventura tão arriscada.
Mas Deus não é igual aos homens que só se interessam pelos mais fortes, mais inteligentes e desprezam os mais fracos e indefesos. Esses exilados, impossibilitados de superar as próprias condições, de encontrar o rumo da salvação, representam todos aqueles que Deus chama da escravidão do pecado para uma vida nova.
Como abandonar certos hábitos, como renunciar a certos laços afetivos que nos escravizam, como manter a fidelidade às exigências do Evangelho? Nós mesmos muitas vezes nos sentimos como coxos e incapazes de dar um passo, impossibilitados como os cegos de enxergar os caminhos do Senhor. O profeta nos alerta, porém, que o Senhor presta seu socorro especialmente aos que não conseguem caminhar sozinhos.
As palavras de conforto do profeta devem nos trazer à memória que o caminho encetado no Batismo é comprometedor sem dúvida, mas, ao mesmo tempo, está repleto de muitas alegrias. Não sejamos pessimistas, valorizemos também as alegrias e as vitórias e não demos valor só aos acertos e desacertos que praticamos.
2ª Leitura (Hebreus 5,1-6)
A Carta aos Hebreus foi escrita para os cristãos de origem judaica que aderiram à fé em Cristo, mas que ao mesmo tempo, sentem saudade profunda do templo de Jerusalém e das cerimônias solenes que ali se realizavam.
O autor da carta responde a esses problemas explicando aos seus irmãos de fé que Cristo é um sacerdote infinitamente superior aos da Antiga Aliança. Na passagem de hoje ele lembra as características dos sacerdotes que ofereciam os sacrifícios no templo. Eles – afirma – deveriam ser escolhidos por Deus; não poderiam atribuir-se essa honra sem terem sido chamados pelo Senhor, como foi Aarão.
Eram, além disso, homens e não anjos, pois só quem experimenta em sua própria carne a fraqueza humana está em condições de entender a fragilidade e os pecados dos irmãos e ser solidário com eles (vers.1-4).
Jesus possui essas duas características. Não atribuiu a si mesmo a glória de ser Sumo Sacerdote, mas esta lhe foi conferida pelo Pai (vers.5-6). Ele é realmente um homem, passou pela experiência da dor e da tentação, e por esta razão pode compadecer-se dos nossos erros (vers.7-10).