Missão Romana dos Jesuítas – Pe. Miguel Cerdá
por Luís Roberto de Francisco
Biblioteca Histórica
“Padre Luiz D’Elboux”
Tão logo Miguel Cerdá terminou os estudos finais da formação dos jesuítas, em Roma, os superiores o quiseram reter-lo como professor na Universidade Gregoriana, tamanho o seu talento para conduzir a formação nos quadros da Ordem sob o Ratio Studiorum, o método próprio da Companhia de Jesus. Mas esse espanhol já havia indicado que desejava fortemente voltar ao Brasil, a Itu, ao colégio São Luís no qual lecionara por seis anos.
Cerdá nasceu na ilha de Maiorca a 27 de abril de 1872. Entrou para a Companhia de Jesus aos catorze anos, em 23 de agosto de 1886 passando para a Província Romana. Tão logo terminou os estudos da Filosofia, foi enviado para o Colégio São Luís, aonde chegou a 6 de agosto de 1894 na companhia do padre Cervelli. Lecionou línguas latina e grega, matemática e geografia além de ser o prefeito dos alunos menores.
A 10 de setembro de 1900 retornou à Europa para a formação final e a ordenação sacerdotal. Quando voltou definitivamente ao Brasil passou algum tempo no colégio Santo Inácio, no Rio de Janeiro, fixando-se posteriormente em Itu. Era o tempo de glória do São Luís. Havia dezenove padres mestres que conduziam os estudos dos jovens matriculados no internato. Cerdá era muito próximo deles: “de vez em quando jogava bilhar com seus jovens alunos, ou então se limitava a dirigir os lances dos jogadores, com precisão matemática, o que tornava as partidas interessantíssimas. De si dizia que tinha “um coração moço num corpo de velho.”
Cerdá era versado em letras clássicas. Por um tempo foi o responsável pela a academia de letras dos alunos. Assim se refere a esse tempo o ex-aluno Waldemar Tavares: “Na direção da Arcária Gregoriana, o ilustre jesuíta com alta sabedoria nos iniciava nos segredos da Literatura, traçando normas que nos serviram na vida prática, na tribuna e na cátedra.”
Este era justamente um dos grandes objetivos da educação jesuítica, a formação de quadros de liderança política e social. A retórica trabalhada na Arcádia serviria à facilidade de comunicação no futuro quando os alunos, então adultos, ocupassem cargos de direção e defendessem ideias propostas pelos padres-mestres, de fé católica e valores cristãos.
A imagem do padre Miguel Cerdá que melhor ficou na memória dos alunos é o trato cordial e lhano na sala de aula: “Sua pedagogia era a do coração. Nos seus gestos, na sua eloquência e nas suas atitudes, era sempre o jesuíta obediente, e fiel à Ordem, piedoso e prudente. E assim era o Padre Cerdá, que irradiava simpatia, amigo de seus discípulos, zeloso no cumprimento de seus deveres.”
Com a mudança do São Luís para a capital, em 1918, Cerdá também se transferiu e ficou ligado ao externato pelo resto de longa sua vida que se encerrou às 7 horas da manhã de 18 de abril de 1941, após curta enfermidade. Nove dias depois ele completaria 69 anos.