O dia do Nascituro
Escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência” (Dt 30,19).
Caros leitores e leitoras: desde 2005 a Igreja no Brasil realiza nos dias 1º a 7 de outubro a Semana Nacional da Vida, instituída pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), culminando com o Dia do Nascituro (no dia 08). É uma data fixa no calendário da CNBB. Inspirada na Carta Encíclica Evangelium Vitae (25-03-1995) de São João Paulo II, a Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da CNBB, por meio da Comissão Nacional da Pastoral Familiar (CNPF), lançou o subsídio Hora da Vida para as celebrações deste evento. O tema escolhido para a edição deste ano é “Família Santuário da Vida”.
A atividade da Semana Nacional da Vida e do Dia do Nascituro é uma feliz iniciativa da Igreja. Busca ecoar na consciência, não só dos católicos, mas também na de todos os homens e mulheres de nossa sociedade, o quanto é necessário criar uma cultura da vida numa realidade que, muitas vezes, passou a considerar certas condições humanas como descartáveis.
Se os caminhos de morte são muitos, nós queremos escolher a vida. Daí a luta pela ecologia, pelos pobres, pela inclusão social, os mutirões de combate à fome, tudo é uma sinfonia de ações em favor da vida. Como então não defender a dignidade, a humanidade, a originalidade do embrião, do feto, do nascituro? Neste mutirão pela vida estão o cuidado e atenção para com as gestantes e a educação para o amor convocando namorados, noivos e casais a serem promotores da vida: “Entre estes seres frágeis, de que a Igreja quer cuidar com predileção, estão também os nascituros, os mais inermes e inocentes de todos, a quem hoje se quer negar a dignidade humana para poder fazer deles o que apetece, tirando-lhes a vida e promovendo legislações para que ninguém o possa impedir. Muitas vezes, para ridiculizar jocosamente a defesa que a Igreja faz da vida dos nascituros, procura-se apresentar a sua posição como ideológica, obscurantista e conservadora; e, no entanto, esta defesa da vida nascente está intimamente ligada à defesa de qualquer direito humano. Supõe a convicção de que um ser humano é sempre sagrado e inviolável, em qualquer situação e em cada etapa do seu desenvolvimento. É fim em si mesmo, e nunca um meio para resolver outras dificuldades. Se cai esta convicção, não restam fundamentos sólidos e permanentes para a defesa dos direitos humanos, que ficariam sempre sujeitos às conveniências contingentes dos poderosos de turno” (Papa Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 213).
No ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 1,26), reflete-se, em cada fase da sua existência, o rosto de seu Filho Unigênito. Este amor ilimitado e quase incompreensível de Deus pelo ser humano revela até que ponto a pessoa humana seja digna de ser amada por si mesma, independentemente de qualquer outra consideração: inteligência, beleza, saúde, juventude, integridade, etc. Numa palavra, a vida humana é sempre um bem inviolável, porque ela é, no mundo, manifestação de Deus, sinal de sua presença, vestígio de sua glória.
Nós, católicos, professamos a fé e a certeza científica de que, desde a concepção, a vida já é completa. O ser humano é vivente desde a formação no seio materno. A ciência afirma que, a partir do encontro entre o óvulo e o espermatozoide, o ser já é formado por inteiro. Por isso, o ser humano traz, desde então, todo o seu patrimônio genético; é o ser total, a pessoa inteira que é concebida na união vital entre homem e mulher.
Portanto, cremos que o Reino de Deus é reino de vida e assim somos chamados a ser profetas da vida, porque o projeto salvífico de Deus é um projeto de vida. O mandamento “não matarás” (cf. Ex 20,13; Tg 2,11) é revelação da vontade divina e expressão da lei inscrita na natureza humana. O direito à vida precede quaisquer outros direitos, pois a sacralidade da vida humana nos impele à defesa de sua inviolabilidade.
O trabalho pela afirmação da dignidade da vida humana certamente vai além desse tempo especial no calendário do mês de outubro. Deve ser algo constante. É preciso envidar esforços, eclesiais e sociais, em vista da vida e de sua qualidade para todos. Por isso, mais uma vez, nossa Diocese de Jundiaí, paróquias e comunidades são convidadas a realizarem ações públicas e eclesiais neste mês, dando a força de mobilização em prol da vida desde a concepção até seu fim natural.
A todos abençoo, principalmenteas mães gestantes.
Dom Vicente Costa
Bispo Diocesano
de Jundiaí