A família é a primeira escola dos filhos para a vida em sociedade
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“Os pais devem criar em seus lares um clima de confiança, de amor, de fraternidade, de amizade, de diálogo e somente assim conseguirão educar os filhos com amor, com liberdade e com responsabilidade.” Essa é a reflexão que o diácono permanente Reginaldo de Castro faz sobre a importância da família na educação dos filhos, preparando-os para a vida em sociedade. Reginaldo, que é diácono há 23 anos e atua na Paróquia Sagrada Família, concedeu uma entrevista para o jornal “A Federação”, por ocasião do Ano “Família Amoris Laetitia”, falando também da fecundidade do amor conjugal, que se concretiza nos filhos biológicos, nos filhos adotivos e em tantas outras situações que a família se mostra “mediadora do amor de Deus”.
Desde criança, Reginaldo já participava da vida da Igreja, acompanhando seu pai (já falecido) na Liga Católica Mariana e nos Vicentinos. Na juventude, participou do Cursilho de Cristandade e do Apostolado da Oração e, com 24 anos de idade, foi convidado por Monsenhor Camilo Ferrarini – então pároco da Paróquia Nossa Senhora da Candelária – a ser Ministro Extraordinário da Eucarística. Participou também da Renovação Carismática Católica (RCC), do Encontro de Casais com Cristo (ECC), Equipes de Nossa Senhora (ENS) e outros movimentos.
Aos 30 anos, Reginaldo foi indicado ao Diaconato, também por Monsenhor Camilo. Concluiu o curso mas precisou aguardar, pois não tinha idade para ser ordenado. Foi ordenado diácono permanente em 1998, iniciando sua atuação na Paróquia Nossa Senhora da Candelária. Desde 2000, está provisionado na Paróquia Sagrada Família, onde teve a oportunidade de implantar e participar de vários movimentos e pastorais.
Na vida profissional, Reginaldo trabalhou por mais de 20 anos numa grande empresa, onde iniciou como auxiliar de almoxarifado e finalizou como gerente de materiais e planejamento. Foi vereador em Itu por 3 mandatos e também atuou como assessor parlamentar na Assembleia Legislativa de São Paulo. Atualmente, trabalha assessorando o deputado estadual Rodrigo Moraes, em Itu.
É casado com Célia há 33 anos. São pais de Daniela, 31, e avós de Pedro Luiz, 6, Isabelly, 3, e João Vitor, de 1 ano.

 

Jornal “A Federação”: Em suas reflexões sobre a fecundidade do amor, o Papa Francisco diz que “o amor conjugal não termina dentro do casal”. De que forma(s) a fecundidade do amor do casal pode se manifestar e “tornar o amor de Deus presente na sociedade” (AL 184)?
Diácono Reginaldo de Castro: No seu “hino ao amor” (1Cor 13,1-13), São Paulo mostra a natureza do amor, sem negligenciar ou deixar de lado as exigências do dia a dia de um casal. Gestos e palavras como “eu te amo, te ofereço estas flores, este presente” fazem parte da vida conjugal. Mas o amor do qual fala o apóstolo Paulo é uma força interior divina que deve constantemente manifestar-se e renovar-se a cada dia no diálogo, na compreensão, na humildade e doação, na construção do lar, no perdão, na esperança e na fé. São Paulo afirma que, sem o amor, nada tem valor. E que só o amor sobreviverá a tudo: amando com Cristo, vivemos já uma realidade divina e eterna. Na Carta aos Efésios, São Paulo compara a relação entre Jesus Cristo e a Igreja com o amor entre marido e esposa, mostrando de forma extrema que o amor entre esposos deve ser como o grande amor de Jesus à Igreja. Essas passagens bíblicas nos mostram de forma clara e evidente como Deus quer que vivamos o amor conjugal, um matrimônio santo e feliz, que gere uma família verdadeiramente cristã e sadia. E assim o casal pode ser no mundo um sinal do amor de Deus.

JAF: Papa Francisco diz que, “na família, se gera e se acolhe a vida, cada filho que chega é um dom de Deus! Toda criança deve ser acolhida porque é filho, em qualquer caso e em qualquer circunstância”. Sabemos que nem sempre isso acontece, como nos casos de aborto, abandono e tantas outras formas de rejeição dos filhos. O que a família pode fazer para ser sempre “um instrumento do amor de Deus” em relação aos filhos?
DRC: O amor conjugal e familiar é fecundo e a procriação é um bem do matrimônio. As pessoas se casam para crescer, amadurecer, santificar-se e viver na fé. A religião, a fé, os mandamentos de Deus estão vinculados à família porque a oração, o perdão e os valores espirituais contribuem para a educação dos filhos e consequentemente para o bem da sociedade. Outro ponto importante é o testemunho de vida, ou seja, viver o que fala, praticar o que ensina. Porque as palavras comovem, mas é o exemplo que arrasta. E hoje as crianças (filhos) estão muito mais atentas ao que fazemos e do que ao que falamos. Nunca se esqueça: a família é a primeira escola das virtudes sociais de que a sociedade tem necessidade. Portanto, os pais devem criar em seus lares um clima de confiança, de amor, de fraternidade, de amizade, de diálogo e somente assim conseguirão educar os filhos com amor, com liberdade e com responsabilidade.

JAF: Em seus depoimentos, o casal Enrico e Francesca conta como foi a decisão pela adoção de um filho. O Papa Francisco diz que “a adoção é uma escolha cristã”, “mesmo para além dos casos de esposos com problemas de fertilidade” (AL 180). Em sua opinião, o que é preciso para uma família tomar a decisão de adotar um filho?
DRC: Em primeiro lugar, muito amor! Amor à Deus e amor ao próximo. Como diz o Papa Francisco: “Adotar é dar uma família a quem não a tem, é o ato de amor com que um homem e uma mulher se tornam mediadores do amor de Deus“. Conheço vários casais com filhos adotivos, filhos do coração que parecem filhos legítimos. É muito amor, muita dedicação, muita responsabilidade envolvida. Os filhos – naturais, adotivos ou acolhidos – são seres humanos e precisamos receber, cuidar e amar.

JAF: Na Exortação Apostólica “Amoris Laetitia”, o Papa Francisco nos lembra que nenhuma família pode ser fecunda, se se considera “diferente” ou vive “separada”. Ele usa como exemplo a família de Jesus, que “era uma família simples, próxima de todos, integrada normalmente na comunidade” (AL 182). Em sua opinião, qual a importância das famílias estarem integradas com outras famílias, mesmo as que não fazem parte da Igreja? Não seria mais fácil se isolar e “se afastar do mundo”?
DRC: Nenhuma família pode se isolar ou se afastar do mundo. Não vai dar certo. Nenhuma família pode viver como uma ilha, se fechar em si mesma. Hoje, o individualismo nos leva a fecharmo-nos na segurança de um ninho e sentir os outros como um incômodo. Mas isso não nos traz paz e felicidade. Devemos ser próximos um dos outros e partilhar nossas alegrias, dúvidas e problemas com outras famílias. E isso pode ser através da grande família, de movimentos da igreja ou de comunidades de vida, onde teremos a oportunidade de aprofundar o amadurecimento do amor, da fidelidade.

JAF: O texto também fala da importância da “família alargada”: familiares, parentes, amigos e outras famílias que se encontram, se apoiam e se ajudam diante das necessidades (AL 196-197). Qual a importância dessa “família alargada” para a vida familiar? De que forma ela também pode ser um sinal do amor de Deus para as pessoas mais fragilizadas?
DRC: Ao contrair o matrimônio, se diz: deixará seus pais e se unirá a sua esposa e se tornarão uma só carne. Muito bem. Mas, antes disso, você foi filho, foi irmão, foi sobrinho. Então não podemos simplesmente esquecer das relações familiares que vivemos. Precisamos conviver com nossos pais, irmãos, tios, primos, sogros, vizinhos. Precisamos da experiência deles, do olhar fraterno, das sugestões e da ajuda. Faz bem pra gente saber que ajudou, colaborou para a resolução de algum problema ou de alguma conquista. Sendo assim, devemos ser acolhedores com todos, indistintamente.

JAF: Como mensagem final, o que você diria para os casais que estão enfrentando dificuldades com relação aos filhos, seu jeito de ser e suas decisões na vida? O que fazer para que o amor dos pais chegue até os filhos?
DRC: Procurem sempre dialogar com sua família. Muito importante é o diálogo, o perdão, o respeito. Sejam pacientes. Não desistam nunca dos seus filhos. Por mais que eles errem, não desistam, não desanimem. Façam a sua parte, tenham fé, pois para Deus não existe caso pedido, sem solução. Para Deus nada é impossível! Façam sempre a sua parte, não economizem amor com a sua família, com os seus. Com fé em Deus, dedicação e amor, na hora certa, do jeito certo, tudo vai mudando para melhor. Pode acreditar: Deus é fiel!

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