Elias Lobo e São José
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por Prof. Luís Roberto de Francisco

A convocação de um ano especial dedicado a São José, pelo papa Francisco, veio através da Carta Apostólica Patris Corde (Com o Coração de Pai), celebrando o sesquicentenário da declaração do esposo de Maria como Padroeiro da Igreja, pelo papa Pio IX.
O compositor Elias Álvares Lobo viveu aquele tempo e foi grande devoto do padrasto de Jesus, padroeiro das famílias e das casas. Elias era um homem religioso, de uma espiritualidade comprometida com os outros, inclusive na promoção de obras sociais. E a sua melhor expressão de fé, justamente, é a música sacra. No tempo em que ele já vivia em São Paulo, escreveu um “Mês a São José”, para ser cantado em todo março.
Elias Lobo foi pai de uma grande família. Casado em 1855 com Elisa Eufrosina da Costa, irmã de Tristão Mariano, desse matrimônio de vinte e oito anos, nasceram sete filhos. Viúvo, casou-se novamente com Izabel de Arruda, constituindo nova família. Vieram outros seis filhos, treze ao total. Como um professor músico conseguiu manter a prole numerosa?
O maestro não teve sua própria casa, alugando imóveis nas cidades em que viveu: Itu, Itatiba, Campinas e São Paulo. Devoto do patrono da Igreja, Elias pedia a sua proteção cotidianamente. Em tempo de dificuldades acalmava os filhos: Não se impacientem: S. José prevê a tudo. Eu já falei com Ele… Uma pequena imagem do santo estava sempre sobre a cômoda do quarto.
Quando a família se mudou para São Paulo, Elias Lobo tornou-se procurador de d. Angélico de Queiroz Barros, para administrar umas casas de aluguel próximas à igreja de Santa Cecília. Ele era o organista e regente do coro nesse templo. A família passou a morar em uma dessas casas.
O tempo passou e o maestro adoeceu muito. Preocupado com o futuro da família, pediu que alguém apanhasse um bilhete, sobre a cômoda, debaixo da imagem de seu santo de devoção: Peço a São José, uma casa para amparar minha família, e em troca disto, darei a minha alma que levará junto de si… Seu neto, o jornalista Pelágio Lobo nos conta o desenlace da história. Nesse mesmo dia, d. Angélico veio visitá-lo… já muito debilitado; trazia para ele o melhor presente: a escritura da casa em que moravam, doando-a ao maestro. Naquela mesma noite ele faleceu.
Mais de cem anos depois, a providente imagem de São José voltou para Itu, veio morar junto das partituras originais do maestro, no Museu da Música e continua fazendo milagres.
Nestes terríveis tempos de pandemia, foi a vez de São José e Elias Lobo virem atender o museu. A família Lobo acaba de se desfazer do imóvel doado por d. Angélico; os descendentes das últimas filhas do maestro: Margarida, Isabel e Maria do Carmo se lembraram de doar parte do valor para que pudéssemos melhor conservar o precioso acervo, manter o museu e compartilhar a riqueza musical que ele traz com a sociedade… justamente no ano de São José!

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