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“Serei para vós um Pai e vós sereis meus filhos e filhas” (2Cor 6,18).

Caros leitores e leitoras: para nós, cristãos, Pai é o nome próprio de Deus. Reconhecer o Pai, carregar o nome do Pai, buscar a proteção e o amor do Pai em nosso dia a dia é reflexo da experiência primordial da fé que professamos. A fé nos diz que Deus não é uma ideia, mas Aquele que Jesus de Nazaré ensinou-nos a chamar de Pai.
Embora a paternidade do Pai seja um dom para toda a humanidade, é no cristianismo que a nomeação de Deus como Pai toma lugar de forma central. Crer no Pai implica conhecer o Filho que o revela, e abrir-se à presença do Espírito que conduz ao Pai por mediação do Filho. Falar em Deus como Pai é dizer que o papel do pai no antigo Israel permite que compreendamos melhor a natureza de Deus. Isso não significa dizer que Deus seja masculino. Nem a sexualidade masculina e nem a sexualidade feminina deve ser atribuída a Deus. Pois a sexualidade é um atributo que pertence à ordem da criação, sendo inadmissível aceitar uma correspondência direta entre esse tipo de polaridade (homem/mulher) para referir-se a Deus.
Contudo, a verdade da nossa filiação divina em Cristo é a síntese e um dos pontos centrais de toda a revelação divina. A filiação divina é sempre um dom gratuito da graça, o dom mais sublime de Deus para a humanidade: “Vede que grande amor o Pai nos deu: sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos!” (1Jo 3,1). São João usa a expressão “filhos” para dizer que o ser humano se torna o filho de Deus não por natureza, mas por adoção. Este fato mostra o amor de Deus por toda a humanidade, pois o Criador também se torna pai. Isso acontece, como diz o Apóstolo, quando os seres humanos recebem em seus corações o Espírito do Filho encarnado que clama neles, “Abá, Pai!” (cf. Gl 4,6). Assim, quando dizemos “Pai-Nosso”, reconhecemos, primeiramente, que todas as suas promessas de amor anunciadas pelos profetas na Antiga Aliança se cumprem na Nova e Eterna Aliança em Cristo. O Senhor nos mostra essa paternidade pela maneira com que cuida de nossas necessidades, mas principalmente pela adoção filial que nos confere: “Serei para vós um Pai e vós sereis meus filhos e filhas” (2Cor 6,18). O santo, portanto, nada mais é do que aquele que compreende e vive o que é chamar Deus de Pai.
O Dia dos Pais, que celebraremos no próximo domingo, é sempre um momento propício para refletir sobre a paternidade que anda tão em crise ultimamente. Na verdade, a ausência ou o vazio da figura paterna é um dos grandes problemas da humanidade hoje. E talvez um problema ao qual não se presta suficiente atenção. “Na sociedade atual, muitas vezes os filhos parecem ser órfãos de pai. A própria Igreja de hoje precisa de pais. (…) Ser pai significa introduzir o filho na experiência da vida, na realidade. Não significa segurar, prender ou subjugar o filho, mas torná-lo capaz de opções, de liberdade, de partir” (Papa Francisco, Patris Corde, por ocasião do 150º aniversário da declaração de São José como Padroeiro Universal da Igreja, n. 7).
O Catecismo da Igreja Católica ensina que “a paternidade divina é a fonte da paternidade humana” (n. 2214). Deus, então, deu aos seres humanos alguns aspectos do seu “caráter” paternal e, “comissionou” aos pais esse papel de sacerdote do lar, para dar direção, proteção e provisão à família, afirmando e comunicando palavras de bênção, de valor, de identidade, senso de pertença, de significado e destino na vida dos filhos. O despertar para o rosto da Paternidade Divina imprime uma nova compreensão do que é a paternidade humana. Esta consciência configura não só um novo sentido da paternidade humana, mas influencia todas as relações designadas de paternidade, as quais superam o âmbito puramente biológico e familiar, como por exemplo, a figura dos padres em relação aos seus paroquianos.
Tomar consciência da Paternidade de Deus é uma verdade que consola, conforta, encoraja e fortalece o nosso coração e a nossa mente. Como filhos desse Pai, devemos sempre ser obedientes e, acima de tudo, glorificá-lo com as nossas vidas. A verdade, resumindo, é simplesmente uma: que toda paternidade tenha suas raízes em Deus Pai, o qual nos ama como filhos e filhas e que nós, a cada dia de nossa vida, devemos tomar consciência disso.

Um Feliz Dia dos Pais!

A todos abençoo, particularmente nossos pais no seu dia.

Dom Vicente Costa
Bispo Diocesano

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