Em família: “o casal precisa caminhar lado a lado, em diálogo constante”
Compartilhe

Refletindo sobre o tema “A vocação da família”, proposto pelos subsídios do Ano “Família Amoris Laetitia” deste mês, o diácono permanente João Preto, da paróquia São Camilo de Lellis, reforça a importância do diálogo, do respeito e – muitas vezes – da renúncia na vida do casal, para que a família realmente seja construída com a presença de Deus. Em entrevista ao jornal “A Federação”, ele fala também da importância de estarmos atentos às pequenas situações do cotidiano, oportunidades de “sermos outro Cristo” para as pessoas que estão próximas a nós.
João Preto é casado com Lúcia, há 47 anos. Eles são pais de Sheila, 41, Ricardo, 39 e Geisa, 38. E são avós de Henrique, de 5 anos. Foi depois de casado que João passou a atuar de forma mais engajada nas atividades da Igreja. Trabalhou nas Pastorais da Liturgia e do Matrimônio, foi Ministro Extraordinário da Comunhão Eucarística e, há 23 anos, foi ordenado Diácono Permanente.
Na área profissional, João formou-se em Engenharia de Produção, área em que atuou até se aposentar. Hoje presta serviços na área, inclusive para a paróquia São Camilo de Lellis, onde atua como diácono
.

Jornal “A Federação”: No vídeo e no subsídio deste mês, o casal Antonio e Angela nos contam sobre as dificuldades que enfrentaram e ainda enfrentam no matrimônio. Já o Papa Francisco diz que os cônjuges, pelo sacramento do Matrimônio, são chamados a viver sua vocação à santidade. Você acredita que seja possível tornar-se santo dentro do casamento com as dificuldades que a família enfrenta hoje?
Diácono João Preto: Sim! Quando se cumprem os compromissos matrimoniais assumidos diante de Deus, no dia do casamento, o casal, apesar de todas as dificuldades que o cercam, caminha lado a lado, em pé de igualdade, completando o que falta um no outro, renunciando a muitas coisas que chateiam o cônjuge, mantendo um diálogo constante, buscando o entendimento e o respeito entre si, sempre na presença de Deus, na alegria e na tristeza!

JAF: Em sua opinião, a aceitação e o acolhimento de uma gravidez não planejada, de filhos com deficiências, ou mesmo a opção pela adoção de filhos, também podem ser experiências da fecundidade do amor do casal?
DJP:
Com certeza. Para um filho, independentemente de seu estado de saúde, biológico ou não, o amor dos pais é derramado em abundância, numa alegria incontida, numa felicidade sem limites, em que todos se amam e são amados. Nisso, o amor entre o casal é fortalecido e abençoado, e o casamento vai dando seus frutos.

JAF: Em sua Exortação Apostólica “Amoris Laetitia”, o Papa Francisco diz que “a Igreja olha com amor para aqueles que participam de modo imperfeito na vida dela” (AL 78). De que forma nossas comunidades devem agir para ter um olhar misericordioso com as famílias?
DJP:
Que outra coisa nós podemos fazer se queremos imitar o mestre Jesus Cristo e sermos bons filhos da Igreja? Diariamente, temos diversas oportunidades de pôr em prática os ensinamentos de Jesus a respeito do nosso comportamento perante a dor e a necessidade. É uma atitude compassiva e misericordiosa que não espera por ocasiões excepcionais – como visitar um doente, socorrer alguém que está à beira de morrer de fome – mas que vamos exercitando nas pequenas ocasiões do dia a dia e com aqueles que temos ao nosso lado. Se vejo um colega de trabalho com feição abatida, se uma pessoa da família se mostra particularmente cansada e sem ânimo, etc., consigo ver nessas situações uma oportunidade única de ser outro Cristo, sem fechar os olhos ou mostrar-me indiferente e apressado?

JAF: O Papa Francisco diz que “a Igreja é um bem para a família e a família é um bem para a Igreja”. De que forma as famílias podem se beneficiar com a Igreja? E a Igreja, em que ela pode se beneficiar com as famílias?
DJP:
Evangelizar constitui a missão da Igreja, que existe para anunciar, ensinar, reconciliar a humanidade com Deus, perpetuar o sacrifício de Cristo na Santa Missa, administrar os sacramentos. Disso a família se beneficia, com o ardente desejo de salvar sua alma. Já a igreja se beneficia da família para formar o ministério de leigos que prestam relevantes serviços a ela, em um trabalho de doação!!!

JAF: Você acredita ser importante criar momentos de oração e reflexão em família? Os subsídios para o Ano “Família Amoris Laetitia” – que estão sendo publicados pelo jornal “A Federação” – podem ajudar?
DJP:
Como o diz o velho ditado: família que reza unida permanece unida. Infelizmente ainda existem crianças que chegam à idade adulta apresentando dificuldades em rezar um Pai Nosso, uma Ave Maria, porque não tiveram nenhum incentivo no seio da família, que passou longe de ser uma Igreja doméstica. Quando a fé se torna pequena, as dificuldades se agigantam, nos afastamos de Deus, andamos de costas para Deus. E quando isso acontece, não demoram a aparecer as consequências. Na oração, ora falamos com Deus, ora Deus fala conosco, e assim vamos crescendo na vida cristã. Nesse sentido, o Jornal A Federação vem prestando excelente serviço publicando semanalmente reflexões que despertam os leitores para a autocrítica e anima os casais a seguirem, no sacramento do Matrimônio, os caminhos estabelecidos por Jesus.

JAF: Como mensagem final, o que a família pode fazer para “tornar-se uma luz na escuridão do mundo”, como nos pede o Papa Francisco? De que forma a Sagrada Família de Nazaré pode ser exemplo para as famílias de hoje?
DJP:
A família deve se dedicar de maneira mais decidida e responsável à educação espiritual das nossas estimadas crianças, começando por ressuscitar a chamada Igreja doméstica, em que os pais passam a ser os primeiros catequistas, algo fora de moda há um bom tempo, com pouquíssimas exceções. O resultado de tudo isso é o que estamos cansados de ver diariamente em nossas mídias, o que nos causa muita tristeza e decepção. Tenho enfatizado esse assunto nos encontros de Batismo em que participo na paróquia, apesar de ser uma gota d’água no oceano. Apesar disso, vejo grande preocupação da Igreja convocando assembleias paroquiais, regionais e diocesanas, para que possamos estabelecer as ações necessárias, que serão implantadas de imediato. Deus seja louvado!

Deixe comentário