Pe. Mariano Ronchi
A educação da Companhia de Jesus, até meados do século XX, era completamente voltada aos estudos clássicos e no contexto principal o exercício das línguas. Todos os jesuítas praticavam, desde a formação ginasial, o aprendizado do latim de maneira intensa, pois faria parte da sua vida sacerdotal celebrar a missa na antiga língua dos romanos. Além disso, o curso de Teologia, última etapa da formação, era todo aplicado em latim, língua-mãe nos estudos. Depois dela vinham as línguas neolatinas, que serviam para dominar a literatura em seu vernáculo, exercitar o intelecto com a leitura dos pensadores selecionados (e permitidos), e aproximar os estudantes da formação superior através da composição poética, do exercício da retórica para sermões e para as aulas nos colégios.
Os Jesuítas que estiveram em Itu pertenciam à Missão Romana e, em sua maioria, eram italianos. Porém a sua formação acontecia em diversos países, porque a Ordem nem sempre era bem-vinda, por questões políticas. Os políticos liberais faziam dificuldade à Companhia de Jesus, por considerar a sua atividade excessivamente invasiva na vida das sociedades. Na Itália, por exemplo, em 1870, quando da unificação, os jesuítas foram expulsos e tiveram que abrigar-se por alguns anos na Inglaterra, na França, Bélgica, Alemanha, Holanda, Espanha e Portugal. Em todas essas nações havia os seus colégios máximos, para formar novos jesuítas.
Os padres vindos a Itu dominavam diversos idiomas, mas alguns os conheciam em profundidade, a tal ponto de poder lecioná-los. O padre Mariano Ronchi, por exemplo, chegou a ensinar cinco línguas porque circulou pela Europa. Era natural de Fiumonese na Emilia Romagna, nascido a 8 de setembro de 1863. Fez o noviciado, entre 1879 e 1880, parte no Castelo Aux Alleux, perto de Laval, (França), parte em Nápoles. Estudou retórica em Roma, a filosofia em Porto-Re, na Croácia, vindo em seguida para o Brasil. Chegou a Itu a 12 de outubro de 1886.
Em 1892, Ronchi voltou para Roma, onde estudou Teologia. A formação final, a fez em Viena. Lecionou letras desde 1896, quando retornou a Itu. Passou trinta anos ilustrando os jovens nos colégios de S. Luís e Anchieta (Nova Friburgo). A crônica da Companhia afirma que ele “foi ótimo professor dessas línguas, como também de história natural e psicologia, sempre muito estimado pelos alunos, não só pela sua competência nas ditas disciplinas, como pela sua lhaneza, delicadeza e respeito no trato com os alunos, sem descuidar da disciplina e devida seriedade nas aulas, sendo correspondido pelos discípulos com atenção, reverência e amor.” (SCHWENK).
Em 1918, quando o Colégio de S. Luís foi transferido para São Paulo, o Padre Mariano Ronchi deixou o ensino das letras para se dedicar à vida espiritual dos futuros jesuítas, na Vila Mariana, em São Paulo. E foi nesse contexto, exercitando espiritualidade com os jovens que ele sofreu um colapso e veio a falecer, em 27 de junho de 1921, há exatos cem anos.
Luís Roberto de Francisco
Biblioteca Histórica “Padre Luiz D’Elboux”