Obrigado, a grande oração
por Dom Adelar Baruffi
Bispo de Cruz Alta (RS)
Em tempos de pandemia, onde nossa oração maior é sempre uma súplica, a oração de ação de graças é preciosa. A oração é o grande grito do coração que se confia em Deus: “um grito que sai do coração de quem crê e se confia a Deus” (Francisco, Audiência, 06/05/2020). Somente quem tem um coração pleno da presença de Deus, pode dizer a Deus uma súplica ou um muito obrigado. Na verdade, a oração para quem confia nele, que sabe que ele caminha conosco sempre, tem duas dimensões: a súplica e a gratidão.
Sempre, na oração o homem tem duas mãos ao alto. “Fé significa ter duas mãos levantadas, uma voz que grita para implorar o dom da salvação” (Francisco, Audiência, 06/05/2020). O homem, como “mendigo de Deus”, eleva a Deus sua prece sempre. A fé é um protesto contra a condição humana que não compreendemos. “A não fé é limitar-se a padecer uma situação à qual não adaptamos” (Francisco, Audiência, 06/05/2020). Sempre dissemos que a fé dos católicos nos impulsiona muito neste tempo de provação. Ai de nós se não tivermos esta fé! De fato, a fé em Deus nos responde quem somos, o que fazemos aqui, para onde vamos, quem nós somos. Esta fé é a resposta para as limitações humanas, ainda presentes, sobretudo pelo desemprego, e sobre as grandes questões da vida após esta. Somos instigados a dizer um “muito obrigado”.
Quando o ser humano reza, não é somente seu intelectual que reza. Nem é somente seu desejo, que logo pode passar, assim que passar a pandemia. O que reza é sua vida, seu coração, aquele que habita no seu ser. “O corpo reza, mas pode-se falar com Deus até na invalidez mais grave. Por conseguinte, é o homem todo que ora, se o seu “coração” reza” (Francisco, Audiência, 13/05/2020). Na verdade, o cristianismo é a manifestação de um Deus de amor, um grande misericordioso, que sabe que é sempre misericordioso. “O cristianismo é a religião que celebra continuamente a ‘manifestação’ de Deus, ou seja, a sua epifania” (Francisco, Audiência, 13/05/2020). Jesus inaugurou uma nova palavra para falar desta presença de Deus. Ele é o “paizinho”. Ele é aquele que “já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai” (Jo 15,15).
O grande mistério da criação de Deus, para quem tem fé, é uma obra divina. Por isso, ao nos aquietarmos um pouco e contemplarmos tudo o que Deus fez, dizemos: como Deus é bom. A beleza e o mistério da criação divina geram no coração humano o desejo de Deus. A admiração é o grande mistério da nossa fé, olhar e deixar que tudo o que existe possa encontrar um lugar dentro de nós. O que somos nós, diante da grandeza do que existe? Tão pequenos! “Se a vicissitude da vida, com todas as suas amarguras, às vezes corre o risco de sufocar em nós o dom da oração, é suficiente a contemplação de um céu estrelado, de um pôr do sol, de uma flor…, para reacender a centelha da gratidão” (Francisco, Audiência, 13/05/2020).
Mesmo quando a dor for grande demais, o sentimento interior que nasce da oração é um dizer: obrigado, Senhor! Neste obrigado, sabemos que o dom de Deus, maior do que tudo, é grande e seu amor é maior do que qualquer dano. Afinal, aguardamos dias melhores e o Senhor nos acompanha sempre.